Preocupados com o aumento de casos de suicídio e de automutilação no País, sobretudo no contexto da pandemia de Covid-19, deputados e representantes do governo federal e da sociedade civil defenderam nesta quinta-feira (9), na Câmara dos Deputados, pequenas ações do dia a dia, como ouvir, apoiar e orientar outras pessoas, como estratégia para preservar vidas.
“É importante não deixar pra lá, não menosprezar situações e não desviar o olhar. As pequenas ações podem sim influenciar positivamente a vida em sociedade”, destacou a deputada Liziane Bayer (PSB-RS), que coordenará um grupo de trabalho de 14 deputados que vai analisar maneiras de prevenir casos de suicídios, de automutilação e problemas psicológicos em jovens brasileiros.
“Além da tristeza provocada pela pandemia, muitos jovens, por causa de exposição excessiva nas redes sociais, têm sido levados à depressão e, em último caso, até a colocar fim em suas vidas”, observou a deputada, ao lembrar que nesta sexta-feira, dia 10 de Setembro, celebra-se do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. No Brasil, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) organiza o Setembro Amarelo, com ações e campanhas para salvar vidas.
Coordenador da Frente Parlamentar de Prevenção ao Suicídio e à Automutilação da Câmara, o deputado Lucas Gonzalez (Novo-MG) destacou números alarmantes relacionados a mortes por suicídio no País. “Temos uma tentativa de suicídio a cada 40 segundos e um suicídio consumado a cada 40 minutos. No último ano, foram 13 mil vidas perdidas”, disse o deputado, que presidiu, nesta quinta-feira, os debates do terceiro Simpósio Nacional de Prevenção ao Suicídio e à Automutilação. “É uma realidade mais próxima do que nós imaginamos, silenciosa, e com a qual, na maioria das vezes, nós não sabemos agir”, acrescentou.
Leila Herédia, que representou no simpósio o Centro de Valorização da Vida (CVV) – organização não-governamental que reúne voluntários treinados para oferecer ajuda por telefone (Disque 188), chat e email – disse que é preciso ampliar a escuta de pessoas em situação de vulnerabilidade e estar atento a todos os sinais. “A escuta que o CVV faz qualquer um pode fazer, desde que esteja treinado para perceber os primeiros sinais. Se a pessoa estava sempre sorridente e não está mais, se era brincalhona e não é mais, se gostava de sair e não gosta mais, ou outras mudanças repentinas de comportamento, isso pode indicar uma necessidade de apoio ou ajuda. Sempre vale perguntar”, observou.
Jovens
Marta Axthelm, da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), demonstrou preocupação especial com casos de suicídios entre os jovens. Ela citou dados de uma pesquisa sobre a saúde mental na pandemia com 2 mil entrevistados e afirmou que jovens entre 18 e 24 anos de idade revelaram ter sentido sintomas como crises de choro (39%), insônia (45%), tristeza (59%) e anguústia (51%) no período. “A partir desses sinais, foram diagnosticados casos de depressão (8%) e ansiedade (19%), que, sabemos, podem evoluir para comportamentos suicidas”.
Marta Axthelm destacou ainda que, com a pandemia, a Abrata passou a atuar oferecendo aos jovens a oportunidade de participar de grupos de conversas online. “Agregamos nesses grupos temas que se tornaram recorrentes, com auto-lesão, pensamentos suicidas e tentativas de suicídio. Percebemos o quanto é importante esse falar, a pessoa se ouvir e ouvir os demais”, disse.
Mestre em Educação, Elias Lacerda pontuou que entre os fatores que podem levar jovens a desenvolver ansiedade ou depressão atualmente estão o bullying ou autobulliyng digitais. No caso do autobullying, explicou, alguns jovens, a fim de submeter ao julgamento público alguma característica pessoal que o inquieta, postam comentários autodepreciativos em perfis falsos na internet. “O adolescente cria um perfil no Instagram, coloca um comentário depreciativo a ele mesmo e aguarda os comentários dos internautas. A partir dali, ela passa a sofrer com aqueles comentários”, diz.
Idosos
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que também participou do simpósio, demostrou preocupação especial com casos de automutilação envolvendo jovens e de suicídios de idosos. Ela destacou ações de combate ao suicídio desenvolvidas pelo governo federal, como o programa Alô, Vovô, que conta com atendentes treinados para atender idosos que procuram o Disque 100 – canal para denúncias de violações de direitos humanos.
“Eles queriam ouvir uma voz, queriam conversar com alguém sobre suas angustias, tristezas e sobre a vontade de morrer. Nosso Alô, Vovô veio como um auxiliar nesse período de tanta tristeza da pandemia”, disse a ministra.
Saúde mental
Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro ressaltou que 97% dos casos de suicídio no País estão relacionados a transtornos mentais, como depressão, bipolaridade e e ansiedade.
Ela citou dados de uma pesquisa com 17 mil pessoas que avaliou os impactos da pandemia na saúde mental da população brasileira. Segundo a pesquisa, 86,5% dos entrevistados apresentavam algum tipo de ansiedade. A pesquisa mostrou ainda que o uso de antidepressivos na pandemia aumentou 15,79%.
Entre as ações do ministério da Saúde para prevenir o suicídio ela citou o programa que envolve a capacitação de todas as equipes do SAMU para a assistência a pacientes com sofrimento psíquico.
Fonte: Agência Câmara de Notícias