Quando a cidade ganha luz pelas mãos de quem não desiste

Brasília se ilumina no Natal. Os prédios ganham cores, as árvores recebem enfeites e as ruas entram no clima da data. Mas, há histórias que não dependem de grandes estruturas para brilhar. Algumas luzes vêm do gesto simples, do afeto cotidiano e da escolha de não endurecer, mesmo quando a vida exige resistência.

Há seis anos, na véspera de Natal, um sedã iluminado corta as ruas do Plano Piloto. Dentro dele, um motorista vestido de Papai Noel transforma o trabalho em missão: espalhar alegria. Roberto Charles Bezerra, 41 anos, encontrou no transporte por aplicativo mais do que uma fonte de renda — encontrou um palco para exercer aquilo que sempre foi: alguém que acredita no riso, no encontro e na magia das pequenas coisas.

Como tantos brasilienses, Roberto carrega uma trajetória marcada por recomeços. Antes de se vincular às plataformas de transporte, acumulou experiências em diferentes profissões. Frentista, balconista, vendedor. A carteira de trabalho cheia de carimbos conta uma história comum a milhares de trabalhadores que precisaram se reinventar quando o desemprego bateu à porta.

Mas foi no Natal que ele decidiu fazer diferente.

De riso fácil e conhecido na família pelo bom humor, Roberto já tinha a fantasia e o espírito leve. Há seis anos, resolveu unir quem ele é ao que faz. O carro virou um trenó terrestre: luzes de LED, presépio no painel, fitas metalizadas, gorros e, no banco de trás, uma pequena caixa com mensagens motivacionais para os passageiros levarem consigo — como quem leva um lembrete de que ainda existe gentileza no caminho.

Durante o período entre 15 e 24 de dezembro, sempre a partir do fim da tarde, ele circula caracterizado. Não é difícil reconhecê-lo. Crianças acenam, adultos sorriem, celulares se erguem para registrar o momento. Antes mesmo de o carro parar, a reação costuma ser a mesma: riso, surpresa e encanto.

Mais do que corridas, Roberto também é convidado a participar de momentos íntimos e simbólicos. Pais o contratam para entregar presentes às crianças. Muitas vezes, os pequenos estão dormindo. O pai ou a mãe acorda o filho no instante exato em que o “Papai Noel” está saindo. A imagem fica. A memória também. É assim que a magia se sustenta — não pela fantasia em si, mas pela intenção.

Em tempos em que as pessoas parecem mais apressadas, mais duras e menos conectadas à essência do Natal, histórias como a de Roberto nos lembram que ainda há quem escolha espalhar luz. Mesmo trabalhando. Mesmo enfrentando desafios. Mesmo sem garantias.

O Natal talvez não precise de grandes produções. Talvez precise apenas de pessoas que, apesar de tudo, insistem em acreditar que o afeto ainda vale a pena.

E, às vezes, tudo começa com um carro iluminado, um sorriso sincero e a coragem de não deixar a esperança esfriar.

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