Opção é bastante procurada e muda a vida de quem apostou na ideia.
É noite de sexta-feira em Goiânia. Assim como milhares de pessoas, o marceneiro Carlos Alves da Silva, de 40 anos, leva a mulher, a funcionária pública Joana D’Arc da Silva,de 38, para comer em um tipo de estabelecimento que virou febre na capital. As jantinhas – combinação de espetinho de carne acompanhado de arroz, feijão tropeiro, mandioca e vinagrete – são consideradas um “fenômeno” pela prefeitura municipal e estão espalhadas por vários cantos da cidade, atraindo cada vez mais pessoas interessadas em uma refeição rápida, barata e saborosa. Quem investiu nesse tipo de negócio há muitos anos, hoje colher os frutos do grande movimento.
Há oito anos, eles frequentam regularmente a mesma jantinha, uma das maiores da cidade, localizada no Setor Parque Amazônia, região sul de Goiânia. Para o casal, vários pontos servem como atrativo para procurar comida na rua. “Além da praticidade e da comida boa, tem também o principal, que é sair um pouco da rotina”, diz Carlos.
Joana diz que sair para comer era bem mais frequente para o casal, mas eles reduziram a prática devido a um problema de saúde que ela teve. “Antes, saíamos muito mais. Porém, há três anos, fui diagnosticada com hipoglicemia e precisei controlar a alimentação. Comíamos muito sanduíche e pamonha, mas agora demos uma maneirada”, afirma a funcionária pública.
Útil e agradável
A busca quase que diária por comida fora de casa não é exclusividade do casal Silva. Muita gente procura as jantinhas e pelos mais variados motivos.Se no caso deles, o que atrai é a possibilidade de relaxar, para um grupo de seis bombeiros que também usufrui da comida rápida e suculenta, é uma questão ligada à economia de tempo. “Trabalhamos em dias alternados e sempre que estamos a serviço, nossas refeições são feitas nas ruas e de forma rápida porque se precisarmos atender qualquer tipo de ocorrência, podemos sair sem problemas. Juntamos o útil ao agradável”, afirma o sargento Brenner Henrique de Castilhos, de 41 anos.
Apesar de precisarem ser rápidos, o grupo não come em qualquer lugar. “Estamos sempre em locais que tenham ambiente familiar, porque temos que preservar a nossa imagem”, diz. Se para a maioria o passeio ocorre durante o momento de folga, para os socorristas, sair para comer quando não estão trabalhando é algo bastante raro. “Quando estamos de folga, nosso intuito é descansar e fazer as refeições em casa mesmo”, destaca.
No caso da funcionária pública Márcia Sabrina, de 31 anos, que vai sempre com toda a família à jantinha, o que pesa na hora de escolher o local para comer é o bom atendimento, mesmo que tenha fazer um deslocamento maior para isso. “Moro no Conjunto Cidade Jardim e vou pelo menos uma vez por semana na jantinha que fica bem longe da minha casa. O atendimento é especial e a comida tem qualidade”, pondera.
Negócio lucrativo
Para atender a demanda, os donos dos estabelecimentos tiveram de se modernizar. Proprietário do Jantinha Grill, localizado no Parque Amazônia, o empresário Orlei Beraldo da Silva Júnior, de 28 anos, começou no ramo há dez anos, junto com o pai. No início, era apenas uma churrasqueira na porta de casa. Hoje, em um dia movimentado, ele chega a vender 2,2 mil jantinhas em uma noite.
Sem revelar qual é o seu faturamento médio, ele afirma que o espetinho mudou a vida de sua família. “Hoje, eu, meu pai e minha madrasta temos carros do ano, compramos nossa casa, tudo melhorou. Tenho 120 mesas e dez funcionários registrados sem contar os ocasionais. Tudo isso vem com muito trabalho”, conta ele, que só não abre o estabelecimento aos sábados.
Orlei se orgulha em dizer que foi o criador do termo jantinha em Goiânia. “Eu sou pioneiro, esse termo [jantinha] não existia. Meu pai sempre mexeu com restaurante e a noite vendia o espetinho de apenas um tipo de carne. Daí foi vindo a ideia de incrementar um pouco e fomos colocando os acompanhamentos. Aí saiu o nome”, afirma.
Atualmente, ele tem 18 tipos de espetinhos, contando carnes, queijos e pães. A jantinha, em geral, custa R$ 9. Evangélico, ele não vende bebidas alcoólicas e diz que o que mais preza no seu negócio é a rapidez. “Em cinco minutos, seu pedido está na mesa, lotado ou não”, gaba-se. Sobre a possibilidade de expandir e se transformar em um bar ou restaurante, ele é taxativo: “Não quero perder as origens, minhas características. Começou e está dando certo assim”, pondera.
Da TV para o bar
O comerciante Mauro Gomes dos Santos, de 48 anos, também começou de forma bastante modesta. Em 1989, recebeu um convite do atual cunhado para montar um espetinho. “No dia 31 de março nós estendemos uma lona e começamos a vender. Eu trabalhava como contra-regra em uma emissora de TV e a noite era garçom”, lembra.
Alguns anos depois, o negócio se desenvolveu e hoje deu lugar ao Taina-Kan Bar, localizado no Setor Bueno, que vende cerca de 300 espetinhos por mês. O faturamento bruto do negócio gira em torno de R$ 120 mil. Ele também vende jantinha, mas ao invés do churrasquinho, criou um prato com dois filés para seus clientes.
Ele conta uma história curiosa de quando ainda trabalhava na TV. “Na época, nós tínhamos um churrasqueiro surdo e mudo. O fato chamou a atenção e a emissora veio até aqui fazer uma matéria. Isso ajudou e divulgar o bar e aumentar o movimento”, recorda.
O comerciante acredita que o ambiente do estabelecimento, que promove shows uma vez por semana, aos sábados, é um atrativo para os clientes. “Além da comida boa, as pessoas vêm aqui para bater papo, se divertir, é uma forma de lazer”, destaca.
‘Fenômeno’
Para a prefeitura de Goiânia, as jantinhas são um fenômeno novo, que é influenciada pela atual condição econômica da população. “Esse tipo de estabelecimento é um reflexo da mobilidade social das pessoas, que aumentou os postos de trabalho. Começou com o sanduíche e depois migrou”, diz o Giovanny Bueno, da Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e Serviços (Semic).
Por esse motivo, ele explica que é difícil até contabilizar quantos estabelecimentos estão espalhados pela cidade. Segundo ele, quando a jantinha é aberta em um imóvel, o local se enquadra na mesma situação de restaurantes e lanchonetes e por isso tem que ter firma registrada e alvará para funcionar.
Entretanto, existem os chamados ambulantes, que vendem a comida em trailer ou logradouros públicos. Nesse caso, eles estão sujeitos a outro tipo de legislação e precisam de uma autorização da prefeitura para funcionar.
“Hoje em dia, cresceu tanto que o ambulante foi parar na loja. Somente quando isso se consolida é que é possível legislar sobre”, pontua.
Fonte:G1
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