Cada um dólar investido em adaptação climática é capaz de gerar outros US$10 em benefícios ao longo de dez anos, revela estudo do World Resources Institute (WRI), que analisou ações em 12 países em um universo de US$ 133 bilhões em investimentos.
A ação reuniu finanças de 320 iniciativas, que juntas resultaram em um potencial de retorno superior a US$ 1,4 trilhão no período.
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ONU: adaptação climática pode custar US$ 300 bilhões por ano até 2030.COP 30 deve ser encontro de implementação, diz Marina Silva.Presidente da COP 30 defende novas formas de financiamento climático.Segundo os pesquisadores, foram considerados apenas investimentos voltados à redução ou gestão de riscos climáticos físicos, como agricultura resiliente ao clima, expansão dos serviços de saúde e proteção contra inundações urbanas. Nas análises, 50% dos retornos ocorreram mesmo sem que houvesse alguma ocorrência, aponta o relatório.
Os investimentos avaliados apresentam benefícios significativos e diversos para os três tipos de dividendos analisados: perdas evitadas; benefícios econômicos induzidos, como empregos e produtividade; e benefícios socioambientais.
“Um dos achados mais marcantes é que os projetos de adaptação não dependem de desastres para gerar valor. Eles produzem benefícios todos os dias: mais empregos, mais saúde e economias locais mais fortes”, destaca o pesquisador sênior do WRI, Carter Brandon.
Segundo a pesquisa, o investimento em adaptação tem esse efeito por apresentar valor constante e ser capaz ainda de promover o desenvolvimento de forma sustentável. Por exemplo, ao proteger uma zona costeira, o local usufrui de serviços ecossistêmicos, como habitat saudável para pescados e mariscos, e ainda mantém uma área beneficiada pelo lazer. “Uma boa adaptação é também um bom desenvolvimento”, destaca o relatório.
Efeito estufa
Sinergia entre adaptação e mitigação também foi observada nas iniciativas analisadas, das quais quase metade gerou redução de gases de efeito estufa. Segundo os pesquisadores, isso amplia o acesso a financiamento climático e mercado de carbono.
A análise aponta ainda que os retornos financeiros médios desses investimentos são de 27%, mas em alguns setores, como saúde, podem ultrapassar 78%. Apenas 8% das avaliações econômicas desses investimentos estimaram o valor monetário dos dividendos.
Esse índice, segundo o estudo, indica uma necessidade de melhoria no método de avaliação realizado por bancos multilaterais de desenvolvimento e outras instituições de financiamento, como fundos e governos. “A melhoria da imagem dos diversos retornos dos investimentos em adaptação poderia motivar os investidores e reduzir o déficit de financiamento da adaptação”, sinaliza o relatório.
O campeão de alto nível da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), Dan Ioschpe, destaca a importância da pesquisa para alavancar investimentos entre setores não governamentais. A COP30 será realizada este ano em Belém.
Pesquisa
Um estudo da Climate Policy Initiative apontou, em 2024, que 90% das iniciativas de adaptação existentes em todo mundo têm origem em recursos públicos.
Ioschpe lembra, ainda, que 2025 é um ano importante para incluir a resiliência nas prioridades nacionais e destravar todo o potencial de investimento no setor. “Essas evidências fornecem aos atores não estatais exatamente o que precisam no caminho para a COP30: um argumento econômico claro para dar escala na adaptação”, opinou.
Além de quantificar benefícios e apontar os valores reais de retorno dos investimentos de adaptação, o estudo da WRI criou também uma base de dados a partir do dividendo triplo da resiliência (TDR, na sigla em inglês), modelo disponibilizado para melhoria dos métodos de avaliação dos investimentos em adaptação.
“É hora de os líderes reconhecerem que a adaptação climática não é apenas uma rede de segurança, mas uma plataforma para o desenvolvimento.”, conclui Sam Mugume Koojo, co-presidente da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática, de Uganda.
Fabíola Sinimbú – Repórter da Agência Brasil