Congresso dos EUA estuda sanções automáticas a países que mantêm comércio com a Rússia, e Brasil pode ser diretamente impactado
Os senadores brasileiros que estão nos Estados Unidos para tentar negociar o “tarifaço” anunciado pelo ex-presidente Donald Trump alertaram nesta quarta-feira (30/7) sobre a possibilidade de uma nova crise que pode atingir diretamente o Brasil nos próximos 90 dias. O grupo, formado por oito parlamentares, foi pressionado por congressistas do Partido Democrata — oposição a Trump — para que o Brasil reveja suas relações comerciais com a Rússia.
Segundo os parlamentares, o Congresso americano pode aprovar uma lei que impõe sanções automáticas a países que continuarem negociando com o governo de Vladimir Putin. A medida, ainda em fase de construção, seria uma forma de pressionar a Rússia a interromper a guerra contra a Ucrânia. Se aprovada, poderá afetar severamente o Brasil, que é altamente dependente da importação de fertilizantes russos para seu agronegócio.
“Se isso acontecer, será uma crise pior do que o tarifaço. O Brasil é dependente desses insumos. Parar essa importação pode significar parar o agronegócio brasileiro”, alertou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que integra a comitiva.
Pressão bipartidária e clima diplomático tenso
Em reuniões com oito congressistas americanos — sete democratas e um republicano — os senadores brasileiros foram informados da intenção do Congresso dos EUA de votar a nova legislação em breve. Os encontros, realizados entre os dias 28 e 30 de julho, também incluíram reuniões com representantes da Câmara de Comércio Brasil-EUA.
Apesar de não participarem diretamente das negociações comerciais oficiais, que estão sob responsabilidade do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), os senadores buscaram sensibilizar o empresariado e o legislativo norte-americano. Como resultado, decidiram enviar uma carta formal ao ex-presidente Trump pedindo a prorrogação das tarifas de até 50% que entrarão em vigor em 1º de agosto.
Possível conversa entre Lula e Trump
Durante os encontros, empresários e políticos americanos defenderam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre em contato direto com Trump para discutir a situação. O senador Jaques Wagner afirmou que Lula está disposto ao diálogo, desde que temas internos, como o funcionamento do Judiciário brasileiro, não entrem na pauta.
“Vários interlocutores destacaram essa necessidade. Falei com o presidente Lula, que disse estar aberto ao diálogo, desde que haja respeito institucional. Quem deve organizar esse encontro é a diplomacia”, declarou Wagner. “A questão da Rússia pode ser tratada, mas com os devidos limites”, completou.
Sanções e tarifas no horizonte
Mais cedo, Trump anunciou tarifas de 25% sobre produtos da Índia, alegando que o país continua comprando equipamentos militares e energia da Rússia. A medida serve como exemplo de como o Congresso americano está endurecendo sua postura em relação a países que mantêm laços comerciais com Moscou.
Com a aproximação da entrada em vigor do tarifaço e a possibilidade de novas sanções legais, a comitiva brasileira reforça a necessidade de ação diplomática imediata. O cenário, segundo os senadores, exige uma resposta estratégica para proteger a economia brasileira e garantir a continuidade de relações comerciais essenciais.