Em depoimento ao STF, ex-secretário de Bolsonaro afirmou que o “Plano Punhal Verde e Amarelo” era apenas um pensamento pessoal, negando ter compartilhado documento
O general da reserva Mario Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro (PL), admitiu em interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (24/7) que foi o idealizador do chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
No depoimento, Fernandes afirmou que o plano não passou de um “pensamento” seu, descrito como um “estudo de situação” que ele teria digitalizado por hábito pessoal. “Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu. Um compilar de dados, um estudo de situação meu, uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém e nem compartilhado com ninguém”, declarou.
O general confirmou ter impresso o documento, alegando que o fez apenas para facilitar a leitura e “não forçar a vista”. Segundo ele, o plano foi imediatamente rasgado após a leitura. No entanto, investigações da Polícia Federal apontam que a impressão foi feita em três cópias, além de uma nova reimpressão cerca de um mês depois — o que Fernandes atribuiu a “configuração da impressora” e a uma “nova ideia” que teria levado à alteração do texto original.
Cerca de 40 minutos após a primeira impressão, Fernandes esteve no Palácio da Alvorada, onde estavam o então presidente Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid. Questionado sobre a possibilidade de ter apresentado o plano a Bolsonaro, o general negou enfaticamente. “Impossível. Eu imprimi para ler no papel. Após isso, rasguei. Esse horário foi uma coincidência em relação à minha atribuição administrativa e logística como secretário executivo.”
De acordo com a delação premiada de Mauro Cid, Mario Fernandes era um dos principais incentivadores da atuação das Forças Armadas para impedir a posse de Lula em 2023. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal suspeitam que Jair Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” do plano.
O plano
Revelado em novembro de 2024 por meio de operação da Polícia Federal, o “Plano Punhal Verde e Amarelo” tinha como objetivo eliminar Lula, Alckmin e Moraes com o uso de armas de guerra e até envenenamento. Os crimes estavam planejados para o dia 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo as investigações, o plano envolvia militares ligados às Forças Especiais do Exército — os chamados “kids pretos” — e previa a utilização de pistolas, fuzis, metralhadoras e um lança-granadas. O ministro Alexandre de Moraes era monitorado constantemente pelo grupo, de acordo com a PF.
O depoimento de Mario Fernandes encerra a fase de instrução do processo contra o chamado “núcleo 2” da organização investigada por planejar um golpe de Estado no Brasil.