Política e mulheres em 2026: a hora da verdade

As mulheres são mais de 52% do eleitorado brasileiro. Ainda assim, seguem restritas a menos de 20% das cadeiras no Congresso Nacional. Essa diferença não é detalhe estatístico — é a prova concreta de que a democracia brasileira funciona com desequilíbrio estrutural. O voto feminino sustenta o sistema; o poder continua concentrado.

Em 2026, essa contradição não poderá mais ser tratada como etapa de transição ou problema cultural de longo prazo. A eleição que se aproxima é um teste direto à coerência do discurso democrático. Ou o país enfrenta o bloqueio sistemático às mulheres na política, ou continuará reproduzindo uma representação que não reflete a sociedade que governa.

O argumento de que “as mulheres não querem a política” já não se sustenta. Elas votam, militam, organizam campanhas, coordenam bases e sustentam partidos. O que não ocorre é a abertura real para que liderem. O sistema aceita a mulher como força eleitoral, mas rejeita sua autonomia política.

Hoje, mulheres são chamadas para cumprir cota, não para disputar poder. Recebem menos recursos, menos tempo de propaganda, menos apoio interno e, quando ousam ocupar espaço, enfrentam resistência explícita. A desigualdade não é acidental — ela é operada, mantida e naturalizada dentro das estruturas partidárias.

Violência política: o mecanismo silencioso de exclusão

A violência política de gênero é um dos instrumentos mais eficazes para afastar mulheres da vida pública. Ela não se resume a ataques explícitos. Está no silenciamento, na deslegitimação, na exposição da vida pessoal, nas ameaças veladas e na tentativa constante de reduzir mulheres à aparência, à emoção ou à vida privada. É uma violência que não precisa ser física para ser eficaz — basta tornar o ambiente hostil o suficiente para que desistir pareça mais seguro do que permanecer.

Enquanto homens são confrontados por suas ideias, mulheres são atacadas por sua existência no espaço político. Esse padrão não é exceção; é método. E enquanto partidos e instituições tratam esses episódios como casos isolados, o recado segue claro: o poder não é lugar para elas.

A eleição de 2026 precisa romper com essa lógica. Democracia não se mede apenas pelo direito ao voto, mas pela possibilidade real de disputar, vencer e governar. Sem mulheres nos centros de decisão, políticas públicas seguem sendo formuladas a partir de uma visão limitada da realidade social.

Quando mulheres ocupam o poder, o debate muda. Temas estruturais deixam de ser tratados como pauta secundária e passam a integrar o centro das decisões. Isso não é militância — é eficiência institucional.

A hora da verdade chegou. Não basta celebrar o voto feminino em campanhas e discursos. É preciso garantir poder, proteção e condições reais de disputa. Sem isso, a democracia brasileira seguirá incompleta, sustentada por mulheres nas urnas e controlada por poucos nos bastidores.

As mulheres já decidiram eleições. Em 2026, a exigência é clara: decidir também os rumos do poder.

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