A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado enterrou hoje, por unanimidade, a chamada PEC da Blindagem. Uma proposta que já nasceu torta, mal formulada e estrategicamente desastrosa. O resultado? Um constrangimento para a direita, um fôlego extra para a esquerda e, sobretudo, um recado cristalino sobre o jogo do centro.
Esse episódio é didático. O centro não se move por convicção ideológica, mas pela lógica da conveniência. Empurrou a direita para a armadilha, deixou-a sustentar o indefensável e, quando a pressão das ruas mostrou o tamanho do equívoco, recuou sem olhar para trás. O desgaste, claro, ficou com quem aceitou carregar o fardo.
O texto da PEC era, desde o início, indefensável. Reação popular imediata, críticas uníssonas, senadores encurralados. Não havia saída honrosa: ou recuava, ou sangrava. O placar unânime não simboliza consenso, mas sobrevivência.
Do ponto de vista estratégico, a direita sai arranhada e fragilizada. A esquerda, ao se opor desde o princípio, ganha fôlego e narrativa. E o centro — pragmático como sempre — reafirma sua vocação de jogar sozinho, calculando cada movimento para preservar imagem e margem de manobra.
O enterro da PEC não encerra o capítulo. A anistia já se anuncia como o próximo embate, e mais uma vez caberá ao centro ditar o tom, ora inclinando-se, ora retirando-se, sempre com um olho no tabuleiro e outro na opinião pública.
A lição é dura, mas necessária: não se defende o indefensável. E em política, erros estratégicos não desaparecem com um discurso de plenário. Ficam na memória coletiva, como um lembrete incômodo de que, às vezes, a pressa em blindar pode se tornar a arma mais letal contra quem tentou se proteger.