Se existisse um ranking das palavras mais repetidas no Brasil, “anistia” estaria no topo. É anistia pra cá, anistia pra lá. Tem quem ame, quem odeie, quem não entenda e quem só finge que entende.
Agora inventaram uma novidade: a “anistia light”. Isso mesmo, light, como refrigerante diet, margarina sem sal ou cerveja sem álcool. Parece igual, mas não é.
A versão defendida pelo presidente da Câmara, com apoio de boa parte do Centrão e alinhada ao presidente do Senado, promete não engordar o prato de ninguém. Diferente da proposta original, não inclui perdão judicial amplo.
Ou seja: as grandes figuras políticas continuam com suas condenações no currículo, mas os envolvidos “menores” nos atos de 8 de janeiro poderiam se beneficiar. É tipo aquele desconto que não chega até você, mas ajuda o vizinho.
E, claro, o presidente da Câmara já tratou de avisar o presidente da República sobre a jogada. O chefe do Executivo declarou ser contra qualquer tipo de anistia. Mas, em Brasília, “ser contra” nunca significa “fim de conversa”.
No fim das contas, a “anistia light” parece mais um remédio político: alivia a pressão de uns, sem curar a dor de outros. Democracia à brasileira — com açúcar, com adoçante ou, agora, com sabor artificial de light.