Durante muito tempo, a metáfora da “picanha” foi usada para criticar os excessos de uma política que privilegiava os mais ricos, enquanto a população em geral sofria com a desigualdade. Era o símbolo do distanciamento da realidade, algo acessível apenas a uma pequena parcela da população, enquanto a maioria batalhava para manter suas necessidades básicas. Mas, o que parecia uma crítica voltada apenas para os luxos da elite brasileira ganhou um tom ainda mais grave: agora, até o café – aquele simples, acolhedor e socializante cafézinho – está sendo tirado da mesa dos brasileiros.
O café, símbolo de momentos de descontração e até de socialização, sempre foi um patrimônio cultural do país. O simples fato de tomar um café em casa, entre amigos ou na pausa do trabalho, representava um pequeno conforto acessível a todos. Porém, a escalada dos preços, a inflação e a crise econômica fizeram com que esse prazer, antes universal, se transformasse em um luxo distante para muitas famílias brasileiras. Agora, o café – assim como a picanha – se tornou um item raro, cada vez mais caro, e uma recordação daquilo que já foi acessível.
Se antes a crítica se voltava para a picanha, como símbolo de um Brasil desigual, hoje ela ganha uma nova dimensão. Agora, não estamos mais falando apenas dos excessos de poucos, mas da escassez que atinge todos. O café, esse ícone do nosso cotidiano, agora se torna um privilégio. E a realidade é ainda mais dura: enquanto os preços sobem e a população luta para garantir o básico, os líderes parecem mais preocupados em manter a política da picanha, sem perceber que o café, que simboliza a vida simples e cotidiana dos brasileiros, está se tornando um artigo raro nas prateleiras.
Esse momento político do Brasil é marcado pela desconexão com as necessidades da população. O café, que antes era algo simples, agora é um símbolo de um país que não consegue mais garantir o que é básico para sua gente. A política do “café e picanha” revela, mais uma vez, o descaso com o povo. Se antes mexiam na picanha, agora mexem no café, e isso é mais do que um reflexo de uma crise econômica – é uma crise de prioridades e empatia.
Chegou a hora de repensarmos o Brasil que queremos. E esse país não pode ser aquele onde, em um momento de desconforto e incerteza, até o café se torna um luxo.