O governo dos Estados Unidos abriu, nesta terça-feira (15), uma investigação comercial contra o Brasil, alegando possíveis práticas consideradas “desleais” no setor de pagamentos eletrônicos. O foco indireto seria o Pix, sistema criado e operado pelo Banco Central do Brasil, que se tornou um dos meios de pagamento mais populares do país.
Embora o nome “Pix” não apareça diretamente no documento oficial, a referência a “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo” indica que o sistema está no centro da discussão. O anúncio foi feito por Jamieson Greer, representante de Comércio dos EUA, por meio da chamada “Investigação da Seção 301 sobre Práticas Comerciais Desleais no Brasil”.
Concorrência com empresas norte-americanas
A investigação levanta preocupações sobre concorrência internacional, especialmente com plataformas de pagamento como o WhatsApp Pay, pertencente à Meta, de Mark Zuckerberg, aliado do ex-presidente Donald Trump.
Em 2020, o WhatsApp chegou a anunciar que o Brasil seria o primeiro país a receber a função de transferência de dinheiro entre usuários. No entanto, o Banco Central e o Cade suspenderam a operação, alegando riscos ao sistema financeiro nacional e à concorrência. A decisão abriu espaço para o crescimento acelerado do Pix, lançado oficialmente em novembro daquele ano.
A economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, defende a medida tomada na época:
“O WhatsApp não estava integrado ao sistema financeiro legal brasileiro, o que fere as regras de regulação. O Pix, por outro lado, foi construído com base em requisitos de neutralidade, segurança e inclusão”, explica.
Ameaça ao dólar?
Outro motivo para o incômodo dos Estados Unidos pode ser o impacto do Pix em transações internacionais. Em países como Paraguai e Panamá, já é possível ver estabelecimentos comerciais que aceitam pagamentos por Pix diretamente de brasileiros.
Essa prática reduz o uso do dólar como intermediador, o que, segundo a economista da PUC-SP, pode afetar os interesses econômicos e geopolíticos norte-americanos.
“Quanto menor a demanda por uma moeda, menor o seu valor. O Pix está começando a funcionar como alternativa em algumas regiões”, avalia Cristina.
Além disso, a chegada do Pix Parcelado, prevista para setembro de 2025, também preocupa empresas de cartão de crédito, muitas delas norte-americanas. O novo recurso permitirá parcelar compras diretamente pelo Pix, com o recebedor recebendo o valor integral na hora – uma funcionalidade semelhante ao crédito tradicional, mas com custos e taxas reduzidos.
Pix: um sistema de inclusão
Apesar das pressões externas, especialistas defendem o Pix como uma ferramenta poderosa de inclusão financeira. Segundo dados do Banco Central, o sistema movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024.
“Pessoas de baixa renda, pequenos empreendedores, trabalhadores informais e até pessoas em situação de rua passaram a ter acesso a um meio de pagamento barato, ágil e acessível”, destaca a economista.
Criado para ser eficiente, seguro e competitivo, o Pix se consolidou como uma das maiores inovações do sistema financeiro brasileiro. E agora, ao incomodar gigantes internacionais, reforça sua importância como símbolo de soberania tecnológica e financeira.