Após anúncio, dólar chega a R$ 5,56; Trump busca justificar tarifa de 50% mesmo com superávit americano na balança comercial com o Brasil
O governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, está preparando uma nova base legal para justificar a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, segundo fontes ouvidas pela agência Bloomberg. A medida seria necessária, pois os EUA têm superávit comercial com o Brasil, o que inviabiliza o uso das justificativas legais empregadas contra outros países que apresentam déficit com os americanos.
A notícia causou reação imediata no mercado financeiro: por volta das 14h28 desta quarta-feira (24/7), o dólar disparava e era cotado a R$ 5,5638, com alta de 0,80%.
Por que o Brasil é um caso diferente?
As tarifas anunciadas anteriormente pelo governo Trump, com base na Lei dos Poderes Econômicos de Emergência Internacional, foram aplicadas a países com os quais os EUA registram déficits comerciais persistentes. Como o Brasil está entre os poucos que mantêm superávit com os americanos, uma declaração de emergência separada está sendo elaborada, de acordo com fontes do Congresso dos EUA.
O Gabinete do Representante de Comércio norte-americano (USTR, na sigla em inglês) confirmou os planos em reuniões com parlamentares nesta semana, mas a Casa Branca e o próprio USTR não comentaram oficialmente até o momento.
Pressão política e retaliação diplomática
O movimento é visto como parte de uma estratégia política do ex-presidente Trump, que apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro e tenta pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a encerrar o que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, acusado de envolvimento em tentativa de golpe de Estado.
A ameaça tarifária foi acompanhada de uma carta do governo americano ao Brasil, que também expressa preocupações com a “censura” a redes sociais dos EUA e críticas ao avanço do Pix, que, segundo os americanos, pode prejudicar big techs. Além disso, o documento menciona o mercado informal da Rua 25 de Março e o setor de etanol como pontos de “competição desleal”.
Senado dos EUA reage
A escalada de tensão gerou reação no próprio Congresso americano. Um grupo de senadores democratas enviou carta ao governo Trump expressando “preocupações significativas com o claro abuso de poder” envolvido na ameaça tarifária. A carta, assinada por nomes como Jeanne Shaheen (New Hampshire) e Tim Kaine (Virgínia), afirma que a medida “cria um precedente perigoso” ao interferir no sistema jurídico de outro país soberano e pode “provocar uma guerra comercial desnecessária”.
Riscos econômicos e diplomáticos
O governo Lula, até o momento, não cedeu às pressões e reforçou o compromisso com a autonomia do Judiciário brasileiro. Em contrapartida, o Palácio do Planalto avalia medidas retaliatórias caso as tarifas entrem em vigor em 1º de agosto, como anunciado.
Internamente, autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad, têm buscado articulações diplomáticas para tentar adiar ou barrar a implementação da medida.