No próximo dia 17 de agosto, os eleitores bolivianos irão às urnas para escolher presidente, vice-presidente, deputados e senadores em um pleito que pode marcar uma transição importante no cenário político do país. Após quase duas décadas sob governos ligados ao Movimento ao Socialismo (MAS), o futuro da esquerda boliviana e o rumo institucional do país estão em aberto.
Direita lidera em meio à divisão da esquerda
As pesquisas de intenção de voto mais recentes apontam a liderança do empresário Samuel Medina, da coligação Alianza Unidad, seguido por Jorge “Tuto” Quiroga, da Alianza Libertad Y Democracia. Juntos, os dois candidatos de perfil mais conservador somam cerca de 47% das preferências eleitorais, o que indica a possibilidade de um segundo turno — algo inédito desde a redemocratização boliviana.
De acordo com a legislação eleitoral do país, um candidato vence no primeiro turno se obtiver mais de 50% dos votos válidos ou 40% com uma vantagem mínima de 10 pontos sobre o segundo colocado. Caso nenhum nome atinja essa marca, um segundo turno está previsto para 19 de outubro.
Fragmentação no MAS compromete desempenho eleitoral
O MAS, partido que esteve à frente do Executivo desde 2006, enfrenta um momento delicado. Conflitos internos entre o ex-presidente Evo Morales e o atual presidente Luis Arce resultaram em divisões que enfraqueceram o bloco progressista. Evo, impedido de disputar novamente a presidência, rompeu com o governo e passou a defender o voto nulo. Ele acusa setores do Executivo de perseguição política e aponta traições dentro do próprio campo ideológico.
Sem o apoio de Morales, o candidato oficial do partido, Eduardo Del Castillo, registra apenas 2% nas pesquisas. Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e ex-aliado de Evo, também perdeu força após ser criticado publicamente por lideranças do MAS. A desistência de Eva Copa, ex-presidente do Senado e fundadora do partido Morena, agravou ainda mais a fragilidade da esquerda nas eleições.
Riscos para o futuro do MAS e do modelo plurinacional
Analistas apontam que o principal partido boliviano das últimas décadas pode não atingir a cláusula de barreira de 3%, o que comprometeria sua presença institucional e seu financiamento partidário. Caso isso ocorra, o MAS pode perder a representatividade que manteve por quase vinte anos no Congresso Nacional.
Além disso, a possível eleição de um governo fora do eixo político que construiu a Constituição de 2009 — que estabeleceu o modelo de Estado Plurinacional — levanta dúvidas sobre a continuidade dessa estrutura. No entanto, especialistas avaliam que, sem maioria parlamentar, mudanças constitucionais significativas são improváveis no curto prazo.
Um país em busca de estabilidade
Com cerca de 12 milhões de habitantes, a Bolívia vive um momento de incerteza política e institucional. As eleições de agosto serão decisivas não apenas para definir o próximo governo, mas também para reorganizar o sistema de forças políticas que esteve centrado, por quase duas décadas, em torno de um único partido. Seja qual for o resultado, o país se encaminha para uma nova configuração de poder que exigirá diálogo, reconstrução de alianças e capacidade de governar em um Congresso fragmentado.