A saída do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, encerra um ciclo diplomático marcado por tensões e desentendimentos com o governo brasileiro. Em conversas reservadas com parlamentares e durante sua despedida oficial, Zonshine lamentou profundamente deixar o país sem que o Palácio do Planalto tenha autorizado a entrada de seu sucessor, o diplomata Gali Dagan.
O nome de Dagan foi encaminhado pelo governo israelense em janeiro de 2025, mas até agora o agrément – procedimento diplomático pelo qual o país anfitrião aprova oficialmente o novo embaixador – não foi concedido pelo Brasil. Com o fim do mandato de Zonshine previsto para este mês de julho, a embaixada israelense ficará temporariamente sem representante máximo em Brasília.
Durante um café da manhã de despedida promovido pela cientista política Alessandra Batista, presidente da rede Shabat Itam, Zonshine reuniu-se com deputados federais da base evangélica, diplomatas, lideranças religiosas e ex-bolsistas de programas educacionais israelenses. Participaram nomes como João Campos (Republicanos-MG), Gilberto Nascimento (PSD-SP) – presidente da Frente Parlamentar Evangélica –, além do bispo Alves Ribeiro, que preside o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (FENASP).
Segundo relatos, o embaixador foi direto: “As relações entre os governos não estão nos seus melhores momentos”, disse, ao mesmo tempo em que fez questão de destacar que os laços entre os povos brasileiro e israelense seguem sólidos, independentemente de decisões políticas.
A demora no agrément por parte do governo Lula é vista como reflexo de uma série de atritos recentes, entre eles as declarações do presidente brasileiro comparando as ações de Israel em Gaza ao Holocausto, que geraram ampla reação internacional e foram duramente criticadas por autoridades e entidades judaicas.
O gesto de não autorizar, até o momento, o novo representante é interpretado nos meios diplomáticos como um sinal político claro do Palácio do Planalto sobre o atual estágio da relação bilateral, que vive um dos seus períodos mais delicados desde a redemocratização brasileira.
Zonshine, que ocupou o cargo desde 2021, vinha mantendo interlocução próxima com parlamentares evangélicos e setores da sociedade civil ligados à causa israelense. Na despedida, foi homenageado por seu trabalho de aproximação cultural e educacional entre os dois países – uma relação que, como ele mesmo frisou, “não pode ser reduzida apenas ao clima político entre governos”.