Ausência do presidente da Áustria na COP30 expõe desafio logístico e ameaça legitimidade do evento

A menos de um ano da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), o Brasil enfrenta uma crise que vai além das discussões climáticas. O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, anunciou que não comparecerá ao evento devido aos “altos custos logísticos” da viagem, levantando uma discussão sobre o impacto financeiro da conferência e a exclusão de países em desenvolvimento nas negociações globais sobre o clima.

A decisão foi tornada pública pela emissora estatal austríaca ORF. Em nota, Van der Bellen reconheceu o valor simbólico da escolha da capital paraense como sede da conferência e reforçou a importância da COP30 no enfrentamento à crise climática. No entanto, justificou que os custos “particularmente altos” para viabilizar sua participação e da delegação presidencial não são compatíveis com a atual estrutura orçamentária da Chancelaria Presidencial.

Com a desistência do chefe de Estado, a Áustria será representada pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Totschnig.

Alta de preços e pressão internacional

A decisão da Áustria ocorre em meio a uma crescente pressão internacional sobre os custos de hospedagem e logística em Belém. Há meses, diplomatas e organizadores alertam sobre a escassez de vagas na rede hoteleira e os preços elevados praticados na cidade. O problema se agravou a ponto de levar a ONU a convocar uma reunião emergencial para tratar da situação.

De acordo com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a permanência de preços fora da realidade pode comprometer a legitimidade da conferência, especialmente se inviabilizar a participação de países com orçamentos limitados — justamente os mais vulneráveis à mudança do clima.

“Temos que encontrar uma maneira de que eles possam estar em Belém. Com a ausência dos países pobres, ficaria uma COP sem legitimidade”, afirmou Corrêa do Lago.

O alerta é respaldado por uma carta enviada à organização do evento por 25 países, entre eles membros do bloco dos Países Menos Desenvolvidos (LDC, na sigla em inglês), como Angola, Libéria, Gâmbia e Tuvalu. Eles denunciam que o teto de US$ 143 por dia, definido pela tabela da ONU para alimentação e hospedagem, é incompatível com os preços praticados no Pará.

Desafio para o Brasil

A organização da COP30 representa um grande teste diplomático e logístico para o governo brasileiro. Desde que o país foi confirmado como sede da conferência, em 2023, o governo federal e o governo do Pará vêm tentando firmar acordos com a rede hoteleira para garantir preços acessíveis e vagas suficientes — até agora, sem sucesso.

A ausência de chefes de Estado e de representantes de países mais pobres pode esvaziar o evento e comprometer o discurso de protagonismo climático que o Brasil deseja assumir.

Mais do que um encontro global sobre meio ambiente, a COP30 é encarada como um momento-chave para mostrar que a Amazônia está no centro da agenda climática mundial. No entanto, se os obstáculos financeiros não forem superados, o risco é de que a conferência se transforme em um evento restrito a nações desenvolvidas — justamente o oposto do espírito de cooperação multilateral que deveria prevalecer.

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