Aisha Khurram, uma ex-embaixadora da Juventude da ONU, compartilhou um tuíte sobre a situação na Universidade de Cabul na manhã deste domingo (15/8) — o domingo é dia útil nos países muçulmanos.
“Alguns professores se despediram de suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã … e talvez não tenhamos nossa formatura assim como milhares de alunos em todo o país.…”, escreveu ela na rede social.
Também no Twiter, Lotfullah Najafizada, chefe do serviço de notícias afegão Tolo News, postou uma imagem de um homem cobrindo de tinta fotos de mulheres pintadas em um muro em Cabul.
Mais de 250 mil pessoas foram deslocadas pelos combates e muitas buscaram refúgio na capital afegã.
Algumas das que fugiram de áreas controladas pelo Talibã disseram que os militantes exigiram que as famílias entregassem meninas e mulheres solteiras para se tornarem esposas de seus combatentes.
Muzhda, de 35 anos, uma mulher solteira que fugiu de Parwan para Cabul com suas duas irmãs, disse que tiraria a própria vida em vez de permitir que o Talibã a obrigasse a se casar.
“Estou chorando dia e noite”, disse ela à agência de notícias AFP.
Mulheres de áreas controladas pelo Talibã também descreveram ser forçadas a usar burcas — veste que cobre todo o corpo, e apresenta uma estreita tela, à altura dos olhos, através da qual se pode ver — e militantes espancaram pessoas por infringirem as regras sociais.
A vida sob o Talibã na década de 1990 forçou as mulheres a usar a vestimenta. Os islamistas radicais restringiram a educação para meninas com mais de 10 anos e punições brutais foram impostas, incluindo execuções públicas.
Militantes do grupo afirmaram à BBC que estão determinados a impor novamente a sua versão da sharia, a lei islâmica, que inclui apedrejamento por adultério, amputação de membros por roubo e proibição de meninas com mais de 12 anos de ir à escola.
Segundo agências de notícias, militantes do Talibã estão entrando em Cabul ‘por todos os lados’ neste domingo (15/8).
Em um comunicado, o grupo extremista ordenou que seus combatentes permaneçam nos pontos de entrada da capital — citando o risco para a população civil.
O ministro do interior afegão em exercício apareceu em um vídeo, transmitido pela emissora local Tolo TV, dizendo que haveria uma “transferência pacífica de poder” para um governo de transição. Ele disse que Cabul não seria atacada.
A agência de notícias Associated Press, citando uma autoridade afegã, disse que negociadores do Talbã estavam indo para o palácio presidencial para se preparar para uma “transferência” de poder.
Mas o gabinete presidencial do Afeganistão negou pelo Twitter que a situação em Cabul esteja fora de controle.
“Houve tiroteios esporádicos em Cabul, Cabul não foi atacada, as forças de segurança e defesa do país estão trabalhando em conjunto com parceiros internacionais para garantir a segurança da cidade, a situação está sob controle”.
Em meio a uma ofensiva “relâmpago”, o Talibã passou a dominar as principais cidades do Afeganistão.
Neste domingo, os militantes assumiram o controle de Jalalabad, uma cidade importante no leste do país, sem encontrar nenhuma resistência.
A tomada de Jalalabad ocorre após o Talibã ter passado a dominar outro importante bastião, a cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão, no sábado (14/8).
O grupo também teria reconquistado Bamiyan, onde há 20 anos explodiu dois Budas gigantes, parte do patrimônio histórico-cultural do país, provocando condenações de todo o mundo.
Nili, capital da província central de Daykundi, também se rendeu ao Talibã sem muita resistência, noticiou a imprensa.
E, nas últimas horas, o grupo afirmou ter tomado o campo de aviação e a prisão de Bagram, nos arredores de Cabul.
O complexo foi o epicentro da guerra contra o Talibã e a Al-Qaeda por cerca de 20 anos, até o mês passado, quando os militares dos EUA partiram na calada da noite sem avisar os afegãos.
As forças da coalizão lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Afeganistão durante dezembro de 2001 e Bagram tornou-se uma enorme base capaz de abrigar até 10 mil soldados.
Os ex-presidentes americanos George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump visitaram a base durante seus mandatos.
Bagram também possui uma prisão, com cerca de 5 mil membros do Talebã presos. Fontes ligadas ao grupo extremista alegaram que os prisioneiros foram libertados.
A prisão de Bagram foi apelidada de ‘Guantánamo do Afeganistão’ — em alusão à infame prisão militar dos EUA em Cuba.
Foi originalmente construída e administrada pelos americanos, mas entregue ao controle afegão em 2013.