Marina Silva alerta para impacto das mudanças climáticas na saúde: “Não temos como cuidar da nossa saúde em um planeta febril”

Brasília (DF) – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou nesta terça-feira (29/7) a urgência de ações concretas diante da emergência climática, durante a abertura da 5ª Conferência Global de Clima e Saúde, realizada em Brasília. Segundo a ministra, os efeitos das mudanças no clima já causam impactos graves à saúde global, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.

“Não temos como cuidar da nossa saúde em um planeta febril. E essa febre tem nome, tem uma razão”, afirmou Marina. A ministra classificou o cenário atual como uma “guerra silenciosa” que mata milhares de pessoas por ano — sobretudo crianças e idosos — sem a devida atenção das autoridades.

Dados citados por Marina mostram que as ondas de calor causam mais de 500 mil mortes anualmente no mundo, superando inclusive o número de vítimas de conflitos armados no mesmo período. Para ela, a ausência de responsabilização direta por essas mortes contribui para a invisibilidade do problema.

Marina reforçou a importância de implementar medidas que já foram discutidas e acordadas ao longo das últimas décadas, como as deliberações da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. “As soluções existem há 33 anos, mas precisam sair do papel”, enfatizou.

A ministra também mencionou os compromissos mais recentes firmados durante a COP28, em Dubai, como a meta de triplicar as fontes de energia renovável e duplicar a eficiência energética, visando reduzir a dependência de combustíveis fósseis e o desmatamento.

No Brasil, segundo Marina, o planejamento ambiental permitiu avanços concretos. “O presidente Lula assumiu o compromisso de desmatamento zero até 2030. E já conseguimos reduzir em 46% o desmatamento na Amazônia, em 77% no Pantanal, 25% no Cerrado e 32% no país”, destacou, citando os resultados obtidos com a retomada do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, criado em 2003.

Saúde, clima e justiça

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também participou da abertura e reforçou a urgência de integrar políticas públicas entre saúde humana, ambiental e animal. “As mudanças climáticas não ameaçam apenas o futuro. Elas estão afetando diretamente o presente”, alertou.

Para Padilha, o momento exige mobilização e articulação para transformar o sistema de saúde e torná-lo mais resiliente diante dos desafios ambientais.

Já o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, em mensagem por vídeo, disse que a conferência pode ser um marco rumo à COP30, prevista para novembro, em Belém (PA). “O encontro é um trampolim para construirmos sociedades mais saudáveis, equitativas e preparadas para os desafios do clima”, declarou.

Rumo à COP30

Organizada pelo Ministério da Saúde, em parceria com a OMS e a Opas, a 5ª Conferência Global de Clima e Saúde reúne especialistas, autoridades e organizações da sociedade civil para debater os impactos da crise climática sobre a saúde global, com foco em ação e equidade.

O evento também sedia o encontro anual da Aliança para Ação Transformadora em Clima e Saúde (Atach) e serve de base para a elaboração do Plano de Ação de Saúde de Belém — uma estratégia nacional para preparar o SUS frente aos efeitos das mudanças climáticas.

O plano será apresentado na COP30 e se estrutura em três eixos: vigilância e monitoramento; políticas públicas baseadas em evidências e capacitação; e inovação com foco em produção sustentável. Equidade em saúde, justiça climática, governança e participação social estão entre os pilares transversais da proposta.

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