O consórcio Angra Eurobras NES, vencedor da concorrência para estruturação do projeto de retomada e término das obras da Usina Nuclear Angra 3, apresenta, até o final deste ano, relatório da avaliação técnica de todo o conjunto construído até hoje e o que falta construir naquela unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), localizada em Angra dos Reis, município da Costa Verde fluminense. A CNAAA é composta por mais duas usinas (Angra 1 e Angra 2), já em operação comercial. Angra 3 terá potência instalada de 1.405 megawatts (MW) e cerca de 82 mil metros quadrados (m²) de área construída, o equivalente a dez campos de futebol.
O consórcio Angra Eurobras NES tem como líder a Tractebel Engineering Ltda. e é formado também pelas empresas Tractebel Engineering S.A. e Empresários Agrupados Internacional S.A.
Para o presidente da Tractebel na América Latina, Cláudio Maia, “a parte mais intensa do trabalho está nos primeiros seis meses”. As equipes do Brasil, Bélgica e Espanha que integram o consórcio iniciaram os trabalhos no último dia 30, um dia após a assinatura do contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Maia assegurou que o relatório que será entregue ao final de seis meses é a parte mais crucial desse projeto. O contrato com o BNDES tem prazo de execução de 24 meses.
De acordo com o banco, a contratação do consórcio faz parte dos serviços técnicos que a instituição presta desde 2019 à Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras que cuida da administração e operação das usinas nucleares, com o objetivo de estruturar o modelo jurídico, econômico e operacional de parceria junto à iniciativa privada, para a construção, manutenção e exploração de Angra 3.
Mobilização
“É um time internacional”, destacou Cláudio Maia em entrevista ontem (2) à Agência Brasil, referindo-se às equipes do Brasil, da Tractebel Bélgica e da Empresários Agrupados, da Espanha. Maia explicou que esse conjunto de expertise domina a tecnologia nuclear há muitos anos. “São empresas de referência não atreladas a uma única tecnologia nuclear, ou seja, são empresas que conhecem todas as tecnologias nucleares. Os times já estão mobilizados, desde o dia da assinatura do contrato”, afiançou.
O consórcio vai estruturar as ações que levarão à conclusão de Angra 3, cuja construção foi iniciada em 1984 e interrompida duas vezes, a última das quais em 2015. A usina está paralisada, com as obras apresentando avanço físico entre 50% e 60%. “Isso significa que, para a retomada, é necessário que se conheça, por meio de uma diligência técnica, a avaliação de tudo que já foi construído e o que ainda falta construir”. Essa é a primeira etapa do trabalho, estimada em seis meses, do total de 24 meses do contrato. “Para construir, você precisa de complemento de projeto, complementos de precificações, etc”, disse Maia.
O primeiro semestre do contrato considera também estimativas de custo e prazo para realizar as obras remanescentes. O presidente da Tractebel na América Latina explicou que é preciso que a diligência técnica aconteça nos próximos seis meses, para atender o cronograma necessário à contratação de epecistas, ou empresas construtoras, que se encarreguem da construção e comissionamento da usina, dentro do que está estabelecido na programação da Eletrobras/Eletronuclear. Nos empreendimentos em regime EPC (do nome em inglês ‘Engineering, Procurement & Construction’), o contrato prevê fornecimento de equipamentos, materiais e serviços de construção, além do projeto básico e do executivo.
O BNDES indicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Angra 3 poderá ter um ou mais contratos de EPC, dependendo das recomendações técnicas a serem feitas pelo consórcio contratado.
Propostas
Após essa fase, será realizada uma etapa de trabalhos mais associada ao atendimento às necessidades do contratante do consórcio, que é o BNDES, e que deverão estar atreladas às propostas das construtoras que vão chegar nesse período. “Avaliação, comparação, equiparação das diversas ofertas para os pacotes de obras que, inclusive, vão ser definidos ao longo dos estudos do consórcio”. Maia afirmou que o consórcio Angra Eurobras NES vai auxiliar a contratante Eletronuclear na análise das propostas que serão apresentadas. “Esse é um outro momento da retomada de Angra 3. As propostas precisam estar aderentes aos requisitos que vão ser levantados durante a diligência técnica”.
Segundo Cláudio Maia, o escopo principal do consórcio é determinar os aspectos técnicos que serão necessários para incorporar nas propostas dos epecistas, visando atender às características desse projeto, que é muito particular, tendo em vista que a tecnologia da época da origem do projeto está ultrapassada e é necessário incorporar o melhor da tecnologia recente e mais avançada. Essas diretrizes que a diligência técnica do consórcio vai fornecer serão repassadas às potenciais empresas construtoras candidatas à conclusão da usina, para que elas tenham total segurança.
Disputa
O presidente da Tractebel na América Latina informou ainda que, em paralelo, haverá o processo de disputa das construtoras, durante o qual o time técnico do consórcio poderá auxiliar o BNDES e a Eletrobras/Eletronuclear na comparação das propostas, identificação se elas atendem aos requisitos necessários apontados, “para que essas ofertas possam ser analisadas à luz da mesma base”. A estimativa de investimentos faz parte do trabalho do consórcio.
Angra 3 tem previsão de entrada em operação no fim de 2026 e vai gerar mais de 10 milhões de megawatts (MWh) por ano, energia suficiente para atender em torno de 6 milhões de residências. O BNDES destacou que, “além disso, como se trata de geração sem dependência de condições climáticas, a usina contribuirá para o aumento da confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN)”.
Cláudio Maia não tem dúvida de que Angra 3 é importante para evitar risco de novo apagão no país. “É uma usina muito próxima do centro consumidor do Brasil e, certamente, ela terá importância fundamental para mitigar futuras questões climáticas de seca, que pressionam os reservatórios. Certamente, não somente Angra 3, mas qualquer geração adicional que venha a se incorporar na nossa matriz, vai ajudar a mitigar qualquer problema de seca no futuro”.
O diretor de Privatizações do BNDES, Leonardo Cabral, avaliou que “a contratação do consórcio, composto por empresas com vasta experiência em assessoramento à implementação de usinas nucleares no mundo, permitirá que se projete ao mercado a confiança necessária para atrair parceiros construtores de primeira linha e uma ampla gama de agentes financiadores no Brasil e no mundo”.
Fonte: Agência Brasil