Como é cuidar de uma criança em acolhimento? Mirian Borges do Carmo, 44 anos, mãe social há dois anos no Lar Bezerra de Menezes, organização da sociedade civil (OSC) parceira da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) no acolhimento institucional, descreve sua experiência: “Quando não estou aqui, sinto falta. Eu não tenho filhos, então eu me doo mais ainda. Eles são muito carinhosos com a gente, até pela história deles, que têm histórico de perdas. Por isso, sempre venho trabalhar para dar o meu melhor mesmo, estar aqui 100% para eles”.
A instituição fica na QNN 5, em Ceilândia Norte. Mirian mora no Riacho Fundo II, pega ônibus às seis da manhã para estar no Lar Bezerra de Menezes às 7h30, onde fica até o dia seguinte em esquema de plantão. Lá, Mirian cuida, brinca, troca a roupinha e oferece as refeições para as 20 crianças que estão acolhidas no local.
São bebês e crianças de até 10 anos de idade encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal por estarem em situação de risco no convívio familiar. “No começo foi bem difícil. Quem está de fora muitas vezes não entende a situação de uma criança como essa. Ela não é coitadinha, sofreu uma violência e precisa de um cuidado. E cada uma tem um tipo de necessidade”, reforça a mãe social. “Aqui, temos o apoio de psicólogo e da equipe, que conversam bastante com a gente, o que ameniza a dificuldade inicial”, conta.
O Lar Bezerra de Menezes é uma das 13 OSCs conveniadas com a Sedes que acolhem crianças e adolescentes, além de duas unidades de acolhimento de execução direta: os Serviços de Atendimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica) I e II.
Os serviços acolhem crianças e adolescentes em medidas protetivas por determinação judicial em decorrência de violação de direitos (abandono, negligência, violência) ou pela impossibilidade momentânea de cuidado e proteção por sua família.
“A ideia é viabilizar, no menor tempo possível, o retorno seguro ao convívio familiar, prioritariamente na família de origem e, excepcionalmente, em família substituta, por meio de adoção, guarda ou tutela”
Renata Marinho O’Reilly, secretária adjunta de Desenvolvimento Social
“Temos duas crianças que passaram por situação de maus tratos na família e no abrigo onde elas estavam antes de vir pra cá. Elas pareciam que tinham raiva do mundo”, relata Mirian ao compartilhar a experiência na casa de acolhimento. “Pedimos o apoio da parte técnica porque não sabíamos como fazer no começo, não tínhamos conhecimento do histórico deles. Quando fiquei sabendo o que eles passaram, eu chorei muito. No final, aprendemos a lidar com eles e houve uma grande melhora.”
A secretária adjunta de Desenvolvimento Social, Renata Marinho O’Reilly, reitera que o objetivo do Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes é preservar e fortalecer as relações familiares e comunitárias. “A ideia é viabilizar, no menor tempo possível, o retorno seguro ao convívio familiar, prioritariamente na família de origem e, excepcionalmente, em família substituta, por meio de adoção, guarda ou tutela”, afirma.
Criança Feliz Brasiliense
“É gratificante poder colaborar com o desenvolvimento dessas crianças. Desenvolvimento físico e emocional, porque faz parte do nosso trabalho também estimular essa capacidade de se relacionar com outras pessoas. Por se tratar de uma instituição de acolhimento, há uma rotatividade, muitas crianças saem, acabam voltando para o convívio familiar. Mas a gente acaba se apegando, não tem jeito”, conta Júlio Cesar Souza Nunes, visitador do Criança Feliz Brasiliense.
Desde agosto, Júlio faz duas visitas semanais ao Instituto Nossa Missão, que fica no Paranoá, para acompanhar e fazer atividades que garantam o crescimento saudável dos pequenos acolhidos. A entidade é uma das três OSCs escolhidas para participar do Programa Criança Feliz Brasiliense.
Para o projeto-piloto, a Sedes indicou três OSCs parceiras que já trabalham com crianças de até seis anos e atuam nos territórios atendidos pelo programa – Lar da Criança Padre Cícero, em Taguatinga; Instituto Nossa Missão, no Paranoá; e Instituto Aconchego, responsável pelo programa Família Acolhedora. As três instituições atendem, hoje, 28 menores, que são acompanhados pelo Criança Feliz Brasiliense. São crianças que, neste momento, se encontram em restrição de convívio familiar por decisão judicial e que recebem as visitas dos cuidadores do Criança Feliz Brasiliense.
O trabalho de Júlio é evitar que essas crianças tenham algum tipo de atraso no desenvolvimento. “As crianças acabam desenvolvendo rapidamente quando são acompanhadas de perto e estimuladas. Elas aprendem a andar, falar. O ambiente de trabalho no instituto também é muito agradável”, reforça.
Um dos casos que chamou a atenção de Júlio foi o da pequena Julia (nome fictício), de pouco mais de um ano. Quando o visitador chegou na casa de acolhimento, a menina não conseguia ficar sentada sozinha, passava o dia em uma cadeirinha de balanço. “Em apenas dois meses, ela já está conseguindo sentar, engatinhar e se segura nas coisas para andar”, detalha.
O Criança Feliz Brasiliense atende 3,2 mil famílias com gestantes e crianças de zero a seis anos de idade em 16 regiões administrativas, por meio de uma parceria entre a Sedes e uma OSC. O acompanhamento em unidades de acolhimento é um projeto-piloto e faz parte de uma orientação já prevista no programa federal criado pelo Ministério da Cidadania.
“O resultado dessa experiência realizada pelo programa do Governo do Distrito Federal vai servir de modelo e referência para todo o Brasil. A partir dele, o governo federal vai desenvolver uma cartilha para que seja executado nacionalmente o atendimento a esse público”, reitera a secretária adjunta de Desenvolvimento Social.
*Com informações da Secretaria de Desenvolvimento Social
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Fonte: Agência Brasília