Irmãos Ferreira: a poesia do Piauí que floresceu em Brasília

Livro narra a trajetória de Clodo, Climério e Clésio, trio musical piauiense que fincou raízes na capital e marcou a história da MPB

Brasília sempre foi solo fértil para ideias ousadas, utopias e talentos vindos de todos os cantos do país. Entre esses migrantes estão Clodo, Climério e Clésio Ferreira — irmãos nascidos no Piauí e criados artisticamente na capital federal. Agora, a história desse trio que atravessou décadas compondo algumas das mais belas canções da música brasileira está registrada em Clodo, Climério e Clésio: a profissão do sonho, livro escrito pelo jornalista Severino Francisco, com pesquisa de Dea Barbosa.

A obra será lançada nesta terça-feira (6/8), às 19h, no tradicional bar Beirute, na Asa Sul, espaço que também foi palco de muitas histórias da geração cultural que cresceu junto com a cidade.

A biografia resgata não só a caminhada musical dos irmãos, mas também seu papel como poetas, educadores e figuras importantes da vida cultural brasiliense. Vindos de Teresina ainda adolescentes, os Ferreira se instalaram em Brasília entre os anos 1960 e 1970, movidos pelo desejo de estudar e viver da arte. Passaram pela Universidade de Brasília (UnB), onde se formaram e militaram intelectualmente, e pelas noites musicais da capital, dividindo composições com nomes como Fagner, Ednardo e Ney Matogrosso.

Canções como Revelação, Enquanto engoma a calça e Conterrâneos tornaram-se parte do repertório da MPB e foram interpretadas por artistas como Elba Ramalho, Dominguinhos, MPB4 e Milton Nascimento. Ao todo, o trio gravou cinco álbuns e compôs dezenas de músicas registradas por grandes nomes da música brasileira.

Apesar do reconhecimento entre músicos e críticos, os irmãos sempre mantiveram uma postura avessa ao estrelato. “Eles são personagens da resistência pacífica. Não constituíram carreira dentro do mercado, mas suas músicas foram cantadas por todos”, diz Severino Francisco. Para ele, a biografia dá voz a uma história que ainda não tinha sido contada com profundidade.

O livro também explora a singularidade de cada irmão: Clodo, falecido em 2024, era o mais engajado politicamente, com atuação marcante na UnB e na Secretaria de Educação do DF. Clésio, morto em 2010, era o mais introspectivo e lírico, criador do bloco Galinho de Brasília. Já Climério, ainda vivo, é o mais recluso e poético dos três — autor de centenas de poemas, muitos dos quais publicados diariamente nas redes sociais.

Com depoimentos de artistas como Fagner, Fernanda Takai e Ednardo, além de parceiros e familiares, Clodo, Climério e Clésio: a profissão do sonho é também um tributo à cultura popular, ao espírito candango e à força da migração nordestina que ajudou a construir a identidade cultural do Distrito Federal.

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