Covid em Manaus: sem oxigênio, pacientes dependem de ventilação manual para sobreviver em Manaus

Médico na capital do Amazonas contou para BBC News Brasil que médicos e enfermeiros têm se revezado em escala para ventilar manualmente os pacientes.

Junto com as notícias da falta de equipamentos e de cilindros de oxigênio para tratar pacientes com Covid-19, vieram também do Amazonas relatos dramáticos da alternativa à qual algumas equipes de saúde estão recorrendo para lidar com a falta de aparelhos de ventilação mecânica: a ventilação manual.

Profissional de saúde no hospital Getúlio Vargas, em Manaus — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Profissional de saúde no hospital Getúlio Vargas, em Manaus — Foto: Bruno Kelly/Reuters

Em ambos os casos, o objetivo da ventilação é fazer artificialmente o trabalho do qual os pulmões e o corpo do paciente já não estão mais dando conta para garantir a respiração e a circulação de oxigênio.

Aparelhos de ventilação mecânica eletrônicos são mais eficazes — mas, na falta deles, equipes costumam recorrer ao chamado reanimador manual autoinflável, conhecido também como “ambu”.

Estes são impulsionados por uma bombinha de borracha apertada com as mãos, conectada por canais até chegar ao paciente em uma máscara facial ou em tubos inseridos na traqueia do paciente.

“A ventilação manual tem sido frequente e aconteceu desde os primeiros meses de pandemia. Isto porque a deficiência de ventiladores (mecânicos) e leitos de UTI no Amazonas é histórica”, contou à BBC News Brasil por áudios de WhatsApp o médico Pierre Souza, especializado em pediatria e cirurgia geral.

O médico, que relata prestar serviço em unidades de emergência de Manaus vinculadas ao governo estadual, diz que já participou em diversos plantões da chamada “escala do ambu” — um rodízio para desempenhar a ventilação manual, que exige esforço e tem duração variada para cada paciente.

“Essa situação caótica muitas vezes exigiu passar noites inteiras ao lado do leito do paciente, fazendo uma escala do ambu, com colegas, técnicos e enfermeiros revezando por longos períodos — às vezes meia hora, uma hora, uma hora e meia.”

“Nós fazemos isso até duas situações acontecerem: ou o paciente é transferido para um ventilador (mecânico) disponível, ou o paciente falece. Vi isso acontecer algumas vezes: apesar da ventilação manual, o paciente precisava de mais suporte, de parâmetros que o ambu não tem capacidade de fazer.”

O Jornal Nacional, da TV Globo, também obteve depoimento de um funcionário do hospital 28 de Agosto, em Manaus, segundo o qual foi igualmente necessário “ambuzar” pacientes ali.

“A ventilação manual aconteceu desde o início da pandemia. É triste ver que vivemos uma segunda onda e os mesmos problemas (da primeira) continuam”, resume Pierre Souza

Fonte: G1

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