A necessidade de mais filmes sobre a inclusão de pessoas neurodivergentes foi a tônica do encontro entre o público e profissionais da área de acessibilidade e do cinema em debate sobre o filme Pedaço de Mim (França, 2024), da diretora francesa Anne-Sophie Baill, exibido no cinema Estação Net Gávea (zona sul do Rio).
Na trama, uma mãe sofre com o dilema em deixar seu filho com transtorno do espectro autista (TEA) ter uma vida independente: viver só, se relacionar com outras pessoas, eventualmente se casar e constituir uma família.
Para o cineasta Daniel Gonçalves, que se identifica como neurodivergente, o filme Pedaço de Mim provoca reflexões.
“No senso comum, a gente não transa. Nós somos anjos e não temos desejo e mais alguns outros estereótipos. Todos esses estereótipos muito capacitistas’’, critica.
Gonçalves dirigiu o documentário “Assexybilidade’’ (Brasil, 2024), no qual entrevista pessoas com deficiência sobre flerte, beijos, sexo e namoro. O seu filme, descreve, mostra que os entrevistados são pessoas com desejo.
Para Flávia Pope, do Instituto JNG, é preciso mudar de perspectiva e compreender que pessoas neurodivergentes são capazes de lidar com as interações do cotidiano. A ONG criou o primeiro modelo de residência no Brasil para que pessoas adultas com deficiência tenham autonomia e vivam de forma independente.
Para a empresária Ana Mota, as modificações da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) têm permitido incluir mais pessoas em situações cotidianas como, por exemplo, ir ao cinema. Ela é dona de uma empresa que presta serviços de acessibilidade em espetáculos e salas de cinema. Com as mudanças nos últimos anos na lei, a sua empresa (All Dub Estúdios) passou a prestar mais serviços como audiodescrição, libras e adequação física de espaços.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), o número de salas equipadas para receber pessoas com deficiência vem aumentando. Em 2024, havia cerca de 3.480 salas em operação, um recorde superado em janeiro deste ano: 3.509 salas.
Anna Karina de Carvalho – Repórter da Agência Brasil