Um alto funcionário da polícia iraniana confirmou que as autoridades do país retomaram o controle do uso do hijab por parte das mulheres dentro de automóveis, informou a imprensa local nesta segunda-feira, mais de 100 dias após a morte sob custódia da jovem curda Mahsa Amini, que provocou grandes protestos em todo o país.
“A polícia iniciou a nova fase do programa Nazer-1 [‘Vigilância’, em tradução do persa] em todo país”, afirmou no domingo a Fars, agência ligada às forças da Guarda Revolucionária (Exército de Guardiães da Revolução Islâmica, no nome oficial), sem citar o nome da fonte nem maiores detalhes.
Criado em 2020, o programa tem como objetivo detectar a ausência de hijab nas mulheres em carros para, então, enviar um alerta por mensagem de texto à pessoa. Segundo a agência, a mensagem é a seguinte: “Foi detectada a ausência do uso do véu em seu veículo. É preciso respeitar as normas da sociedade e não repetir este ato”, sob pena de “multas financeiras” ou “apreensão de carros”.
Ainda segundo a Fars, o texto adverte que, “caso essa ação se repita, medidas legais e judiciais serão aplicadas”. Relatos coletados nas redes sociais pela emissora do governo americano Voz da América em persa, porém, dão conta de que este último trecho da mensagem foi suprimido nos alertas emitidos pela polícia nesta segunda-feira.
Oficialmente chamada de Patrulha da Orientação, a polícia da moralidade foi criada em 2006, no governo do conservador Mahmoud Ahmadinejad, encarregada de fazer valer as regras relativas ao código de vestimentas, que se tornaram um pilar ideológico do regime clerical e central para sua identidade. Suas minivans verdes e brancas percorrem ruas movimentadas das cidades do Irã, especialmente durante o verão, prendendo transeuntes considerados inadequadamente vestidos, principalmente mulheres jovens.
Mahsa Amini, uma jovem curdo-iraniana de 22 anos, morreu em 16 de setembro sob custódia policial, três dias após ser detida por essa força policial, acusada de violar o código imposto às mulheres. Após a mobilização pela morte de Amini, a polícia da moralidade reduziu drasticamente suas patrulhas e o envio das mensagens de texto relacionadas ao uso obrigatório do hijab foi interrompido.
No início de dezembro, o procurador-geral do Irã, Mohamad Jafar Montazeri, foi questionado sobre o caso e declarou que as unidades da polícia da moralidade estavam suspensas. Na ocasião, o comentário foi lido erroneamente na imprensa internacional como uma dissolução das forças e recuo do regime.
Os protestos em todo o país entraram em seu quarto mês, já que tanto as autoridades quanto os manifestantes se recusam a recuar, apesar das tentativas contínuas do governo de reprimir as manifestações.
Pelo menos 508 manifestantes, incluindo 69 crianças, foram mortos e mais de 19 mil foram presos desde que as manifestações começaram há quase quatro meses, de acordo com a Human Rights Activists News Agency (HRANA), com sede nos Estados Unidos.
Dois adolescentes iranianos foram condenados à morte por enforcamento nesta segunda-feira por sua participação nos protestos, segundo a Iran Human Rights (IHR). Mehdi Mohammadifard, de 18 anos, foi acusado de atear fogo a um quiosque da polícia de trânsito na cidade de Nowshahr, na província de Mazandaran; e Mohammad Boroghani, 19, teria “ferido um segurança com uma faca com a intenção de matá-lo”, “semeado o terror entre os cidadãos” e “incendiado a sede da governadoria na cidade de Pakdasht”, a sudeste de Teerã, segundo o Mizan Online, o site do Judiciário iraniano.
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