Mulheres indígenas se reúnem em Brasília pela cura da Terra e pela proteção de seus direitos

Começou nesta segunda-feira (4), em Brasília, a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, com o tema “Mulheres Guardiãs do Planeta pela Cura da Terra”. O encontro segue até o dia 8 de agosto e reúne cerca de 5 mil mulheres indígenas de diferentes biomas, povos e territórios do Brasil. Realizado em parceria entre o Ministério das Mulheres, o Ministério dos Povos Indígenas e a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), o evento ocorre simultaneamente à IV Marcha das Mulheres Indígenas.

Mais do que um espaço de debate, a conferência se consolida como um ato de resistência, denúncia e visibilidade para as lutas enfrentadas diariamente por essas mulheres, que acumulam, além da luta pelo direito à terra, o desafio de proteger suas famílias, seus corpos e suas culturas.

Entre os temas debatidos está o Projeto de Lei 2.159/21, conhecido por ambientalistas como o “PL da Devastação”, que flexibiliza o licenciamento ambiental e ameaça diretamente territórios indígenas. A proposta já foi aprovada pelo Congresso e aguarda sanção presidencial.

“Temos aqui a presença de mulheres de todos os biomas para resistir. Ainda não aceitaram a nossa presença. É dever do Estado desenvolver políticas públicas de proteção às mulheres indígenas”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que propôs a criação de um grupo interministerial voltado à proteção dessas mulheres.

Vozes que vêm da floresta

A conferência é também espaço de escuta. De São Félix do Xingu (PA), Pangroti Kayapó, de 60 anos, e sua neta Nhaikapep, de 22, viajaram mais de 32 horas para participar. Pangroti fala em sua língua originária, e é Nhaikapep quem traduz: “Para que a gente proteja a natureza, pedimos proteção para nós, para nosso ambiente e nossa cultura”.

Elas denunciam a contaminação dos rios Fresco, Iriri e Xingu por metais pesados causados pelo garimpo ilegal, que afeta diretamente a sobrevivência e a saúde de suas comunidades.

De Londrina (PR), Soraya Kaingang, de 44 anos, trouxe seus quatro filhos para o evento. Moradora da Aldeia Apucaraninha, ela alerta sobre os efeitos do uso de agrotóxicos em territórios indígenas. “A gente produz milho, mandioca e feijão, mas está difícil. Vir até aqui é um jeito de contar nossas histórias”, disse.

Compromissos e desafios

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou que o governo federal removeu invasores de oito terras indígenas desde 2023, mas reconheceu os enormes desafios enfrentados pelas comunidades originárias. “Aquelas que menos destruíram são as mais prejudicadas”, afirmou, referindo-se ao desequilíbrio ambiental e às injustiças históricas.

A presidente da Funai, Joênia Wapichana, reforçou a necessidade de que o planejamento orçamentário inclua recursos específicos para políticas voltadas às mulheres indígenas. “Precisamos dar um basta à violência”, declarou.

Uma luta ancestral com rosto de mulher

A 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas marca um momento histórico de protagonismo feminino dentro da luta por direitos indígenas e ambientais. São mulheres que resistem há séculos, que transmitem saberes, preservam culturas e hoje ocupam espaços de poder para garantir a continuidade de seus povos.

No coração do poder, em Brasília, suas vozes ecoam por justiça, proteção e dignidade — não apenas para os povos indígenas, mas para toda a humanidade que depende da saúde da Terra.

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