Catarina de Albuquerque: a mulher que transformou a água em um direito humano

Há mulheres que passam pelo mundo e o transformam — discretamente, com coragem e com a força tranquila de quem acredita que nada é impossível. Catarina de Albuquerque foi uma dessas mulheres.

Jurista portuguesa, mãe, diplomata, visionária. Catarina acreditava que o acesso à água não deveria ser um privilégio, mas um direito humano. E graças à sua voz firme e à sua determinação, o mundo inteiro passou a reconhecer isso.

Foi a primeira Relatora das Nações Unidas para o Direito Humano à Água e ao Saneamento, em 2007, e em 2010 conseguiu algo histórico: a ONU reconheceu o acesso à água como um direito fundamental. Desde então, milhões de pessoas passaram a ter suas vidas impactadas por essa conquista que nasceu do trabalho, da empatia e da fé de uma mulher que acreditava na justiça social.

Pequena em estatura, mas imensa na presença, Catarina falava com líderes mundiais e com crianças da mesma forma: com clareza, com brilho nos olhos e com o desejo genuíno de ensinar. Gostava de lembrar que “a água que hoje temos no planeta é a mesma do tempo dos dinossauros” — e, entre risos, explicava às crianças que “andamos a beber chichi reciclado de dinossauro”, para falar da importância de cuidar do nosso planeta.

Catarina partiu cedo demais, aos 55 anos, vítima de um câncer, mas o seu legado não se apaga. Deixou uma herança que corre nas veias da humanidade: o direito de cada pessoa ter acesso à água potável e ao saneamento.

Foi uma mulher de fé, de princípios e de entrega. Aquelas que conviveram com ela recordam o seu sorriso aberto, o entusiasmo contagiante e a coragem de enfrentar estruturas poderosas em nome dos que não tinham voz.

E esta jornalista que aqui vos escreve teve a honra de vivenciar e trabalhar sob a orientação de Catarina de Albuquerque, num projeto voltado ao saneamento na Paraíba, onde ela, com sua sabedoria e sensibilidade, nos guiou a compreender que falar de água é falar de dignidade humana. Sua presença inspirava, sua escuta acolhia e seu olhar sempre apontava para o futuro — um futuro mais justo, mais limpo e mais humano.

Hoje, o mundo despede-se de Catarina de Albuquerque — a portuguesa que levou água, dignidade e esperança a milhões.
E nós, em Histórias de Marias, celebramos a sua existência como uma lembrança viva de que quando uma mulher acredita, o mundo muda.

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