Poucas profissões são tão majoritariamente femininas como as que são exercidas na educação. E isso é verificado no mundo inteiro porque às mulheres sempre coube o papel do cuidado na sociedade machista e patriarcal em que vivemos. E é por isso que os setores da educação e da saúde, por exemplo, são predominantemente ocupados por mulheres.
Mas mesmo assim, percebemos a desigualdade de gênero dentro dessas áreas: se na saúde é na enfermagem que as mulheres formam a grande maioria de trabalhadoras, deixando a medicina ser exercida ainda por uma maioria de homens, no setor educacional acontece a mesma coisa. No Brasil, a participação das mulheres é maior na educação infantil, segundo o Censo Escolar de 2020, etapa que atinge a marca de 96,4%; nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, as mulheres correspondem, respectivamente, a 88,1% e 66,8%; e, no ensino médio, elas representam 57,8% do total dos/as docentes.
O que explica esses números é justamente aquela ideia de que o cuidado cabe, sobretudo, às mulheres nessa sociedade capitalista e patriarcal a que estamos submetidos atualmente. Até as profissionais da merenda escolar, as conhecidas merendeiras, são em sua grande maioria exercidas por mulheres. O que se percebe, então, é que esse quadro de desigualdade na educação não pode e nem consegue prescindir da força de trabalho feminina. São as mulheres que fazem a educação básica em nosso país.
É fundamental, assim, que possamos romper, por dentro das escolas, com esse quadro histórico e sistêmico da desigualdade de gênero no exercício profissional da educação e de todas as outras profissões.
Não podemos permitir que nossas escolas deixem de debater a questão, por exemplo, da violência física e emocional que as mulheres brasileiras sofrem diariamente no Brasil de hoje. Tão importante quanto isso é que os currículos de nossas escolas incorporem o debate do feminicídio odioso que ainda existe em nosso país. E esse é um debate que cabe fazer em nossas escolas em todas as etapas educacionais, também com suas clivagens de raça. Por que mulheres negras encontram mais dificuldades do que as brancas? Isso deve ser objeto de nossos currículos e debates escolares.
É fundamental que promovamos, no chão da escola, com nossas crianças e jovens, uma educação antirracista e pelo fim do machismo.
O mundo, certamente, seria melhor se ouvíssemos e percebêssemos mais as mulheres. O seu olhar sobre as coisas do mundo não nos colocaria no buraco em que a humanidade se encontra atualmente, com guerras, intolerância e terror generalizados. Às mulheres do mundo, devemos sempre saudar para além de um dia só. Mas já que esse dia existe, diante desse quadro atual de iniquidade e desigualdade, que façamos jus à memória das grandes lutadoras que tivemos em todas as áreas de conhecimento e atuação da humanidade, inclusive na educação. Às professoras e funcionárias de educação das nossas escolas, nossa homenagem, parceria e solidariedade nessa luta diária. Cabe aos homens sermos solidários nessa luta para, assim, marchar ao lado de todas as mulheres por justiça e igualdade social.