Especialistas apontam que programa é fundamental para a transferência de renda e pode diminuir crescimento da fome no Brasil
Após pouco mais de um ano desde a chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil, 72.886 vagas para jovens aprendizes foram fechadas, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), compilados pela consultoria Kairós de março de 2020 a março de 2021.
Destinado a jovens de 14 a 25 anos de baixa renda, o programa Jovem Aprendiz é considerado por especialistas um dos mais importantes para a diminuição da desigualdade e da evasão escolar.
Para poder trabalhar como aprendiz, os jovens precisam estar estudando e tem até a jornada de trabalho reduzida para garantir que possam continuar seus estudos formais. A lei atual ainda exige que empresas preencham até 5% de suas vagas efetivando participantes da iniciativa.
Os benefícios do programa também são considerados importantes para o combate à fome, que cresceu a níveis alarmantes após a piora da pandemia em 2021. “O salário médio de um aprendiz é de R$ 650 aqui em São Paulo. É um valor maior do que o antigo auxílio emergencial e uma fatia importantíssima da renda familiar com qual eles contribuem”, diz o diretor da Kairós Desenvolvimento Social, Elvis Bonassa.
Um destes exemplos é o da estagiária do Banco Pan, Sara Alves, de 20 anos, que entrou para o mercado de trabalho graças ao programa Jovem Aprendiz. Com os salários ela agora ajuda a mãe, que está desempregada, a comprar alimentos para a casa.
“A gente não tem as mesmas chances que um jovem de classe média que tem acesso às boas escolas e a intercâmbio para aprender um idioma. Mas como aprendiz, a gente pode avançar nos estudos enquanto tem uma renda extra para ajudar a família”, diz.
“Isso é uma realidade muito comum neste cenário de pandemia [jovens aprendizes sustentando a família]. Grande parte deles vêm de lares com uma vulnerabilidade social alta, de uma estrutura familiar comprometida, onde o jovem aprendiz é o único membro que possui um trabalho com carteira assinada”, explica Marcela Toledo, coordenadora da entidade Vocação, que ajuda jovens a se conectarem com a iniciativa.
A aprendiz da Lockton, Neysa Saire, de 18 anos, tem no programa também a garantia dos estudos. A mãe, que trabalha como autônoma, estava com dificuldade de pagar as contas da casa e a faculdade da filha, que estuda Gestão de Marketing.
Com as mensalidades do curso se acumulando, ela precisou parar de estudar por meses, até que arranjou o emprego de aprendiz. Neysa agora vai voltar ao curso no segundo semestre de 2021.
“Estou muito feliz por poder colaborar com a casa. Logo que recebi meu primeiro salário fiz umas compras de alimento e ainda pude ajudar a tia de um amigo meu que estava sem condições de comprar comida”, conta.
*Com informações R7