Daniella Marques na Caixa e como ela pode ajudar na campanha do Presidente

A nomeação da economista Daniella Marques para a presidência da Caixa Econômica Federal é tratada no governo federal como um jogo de “ganha-ganha”. A percepção da equipe econômica e do núcleo político é de que tanto a estatal quanto a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) poderão colher os frutos da escolha. A executiva assumiu o cargo na noite de sexta-feira (1.º) e participa às 16 horas desta terça (5) da cerimônia de posse, na Caixa Cultural, em Brasília.

Ex-secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella tem duas importantes missões: a institucional, de estancar a crise na Caixa ocasionada pelas denúncias de assédio sexual e moral contra o ex-presidente da estatal, Pedro Guimarães, e dar continuidade às políticas de crédito; e a política, de evitar maiores danos à imagem do governo e de Bolsonaro em relação às mulheres.

As acusações contra Guimarães caíram como uma “bomba” no Palácio do Planalto, admitem reservadamente interlocutores dos núcleos econômico e político. “Entendo que foi uma escolha acertada por ser alguém muito competente, claro, mas ela foi escolhida para a missão de estancar essa crise por ser mulher”, comenta uma das fontes.

Ainda que uma ala do governo tenha recomendado cautela em não anunciar uma demissão tida como precipitada ainda na terça-feira (28), prevaleceu o entendimento de que as denúncias tornaram a permanência insustentável. Advogaram pela demissão membros do núcleo político e integrantes da coordenação da campanha, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

O cálculo político analisado pelo entorno de Bolsonaro era de que a manutenção de Guimarães alimentaria ainda mais ataques da oposição ao governo e poderia ampliar a visão negativa sobre como o presidente é avaliado entre mulheres. Além dos resultados de pesquisas eleitorais, o Planalto tem acesso a dados que sugerem uma rejeição do chefe do Executivo junto ao eleitorado feminino. Por isso, o nome de Daniella foi visto como o mais indicado para a Caixa.

A escolha por Daniella Marques é tratada na equipe econômica como uma vitória de Guedes. Foi dele a indicação. Desde quando ainda trabalhava no Ministério da Economia ela falava que tinha como missão profissional estar ao lado do ministro. Não à toa era tratada como um “braço direito” do chefe da equipe econômica.

De perfil técnico, Daniella tem uma vivência grande com Guedes, que sempre a viu como alguém de grande competência e confiança. Não à toa o ministro foi um de seus principais defensores para a estatal, não apenas pelo fato de ser mulher e se comprometer a propor políticas para as mulheres, mas também por ter conhecimento para a missão.

Além da bagagem técnica, a equipe econômica também entende que Daniella adquiriu uma boa circulação no Congresso, tanto na Câmara, quanto no Senado, e no Planalto, onde ela é recebida pelo próprio Bolsonaro e membros do núcleo político. Quando assumiu a Secretaria de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, ela foi escolhida por Guedes com a missão de auxiliá-lo justamente na interlocução com o Parlamento.

O antigo titular da pasta comandada por ela, Carlos da Costa, hoje chefe do escritório do Ministério da Economia em Washington, não tinha boa interlocução com o Congresso. Nos últimos meses, Daniella atuou na costura de programas como o “Brasil Pra Elas”, mas também na articulação de pautas prioritárias para Guedes, como o novo Marco de Garantias.

A contribuição de Daniella enquanto mediadora entre o Congresso e o Ministério da Economia, porém, é relativizada por integrantes do núcleo político do governo. Para eles, a relação progrediu, mas nem tanto.

“A Daniella não tem um perfil político, nem chegou a ser tão interlocutora como pregam. Para alguns no Congresso, ela era até vista como muito fechada e difícil de negociar. O [Adolfo] Sachsida [ministro de Minas e Energia] tem sido mais maleável do que ela foi”, diz uma fonte com trânsito no Planalto. A expectativa no núcleo político é de que, à frente da Caixa, ela possa ser mais maleável no relacionamento com a base.

 

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