A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) divulgou, nesta terça-feira (2), a publicação Desafios de Inteligência – Edição 2026, apresentando os principais riscos e tendências que devem orientar a atuação do órgão no próximo ano. A iniciativa, segundo a Abin, busca dar transparência ao trabalho estratégico da inteligência nacional e antecipar ameaças à segurança do Estado e da sociedade.
Entre os temas centrais estão segurança eleitoral, ciberataques com uso de inteligência artificial, dependência tecnológica, reconfiguração das cadeias globais de suprimento e transições climáticas e demográficas.
1. Segurança no processo eleitoral
Com as eleições gerais de 2026 no horizonte, a Abin alerta para ameaças “complexas e multifacetadas”.
Entre os riscos citados estão:
- tentativas de deslegitimação das instituições democráticas;
- manipulação de massas e desinformação em larga escala;
- atuação do crime organizado em territórios sob sua influência;
- possibilidade de interferência externa com fins geopolíticos.
A agência compara o ambiente atual aos episódios de 8 de janeiro de 2023.
2. Ataques cibernéticos e avanço da IA
O relatório destaca a rápida evolução da inteligência artificial como uma das principais preocupações. A Abin alerta para o risco de agentes autônomos capazes de planejar, executar e adaptar ataques cibernéticos, elevando o potencial de incidentes com repercussões militares.
O documento também aponta a necessidade urgente de transição para a criptografia pós-quântica, já que a computação quântica poderá tornar obsoletas as atuais chaves públicas em até 15 anos.
3. Dependência tecnológica e soberania digital
A agência considera a soberania digital um “desafio nevrálgico”.
Entre as vulnerabilidades listadas estão:
- dependência de hardwares estrangeiros;
- concentração de poder nas big techs;
- uso dessas plataformas como vetores de influência política;
- riscos de espionagem e guerra cognitiva.
Segundo o relatório, a dependência de provedores externos em nuvem, dados e identidade digital representa uma vulnerabilidade estratégica severa.
4. Reconfiguração das cadeias globais de suprimento
A Abin avalia que o mundo vive uma fase de desglobalização deliberada, marcada por tarifas agressivas, disputa econômica entre EUA e China e perda de protagonismo do dólar.
Para o Brasil, isso significa uma dupla dependência:
- da China, que garante superávit comercial com commodities;
- de tecnologias e investimentos americanos e europeus.
5. Clima, migrações e demografia
A agência também destaca riscos e oportunidades decorrentes das grandes transições globais.
Entre os pontos de atenção:
- 2024 foi o ano mais quente da história, superando 1,5°C em relação ao período pré-industrial;
- perdas anuais estimadas em R$ 13 bilhões por desastres climáticos;
- riscos energéticos associados ao desmatamento e à redução dos “rios voadores”;
- aumento das pragas agrícolas;
- elevação do nível do mar ameaçando áreas costeiras;
- envelhecimento populacional e evasão de profissionais qualificados;
- pressões migratórias e desafios à segurança das fronteiras.
Multipolaridade e disputa geopolítica
O diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, ressaltou que o mundo vive um momento de “profunda reconfiguração”, com multipolaridade desequilibrada, competição estratégica entre EUA e China e uso crescente de instrumentos econômicos como pressão política.
A agência também observa ameaças militares na América do Sul e uma disputa direta pelos recursos estratégicos da região, incluindo lítio, terras raras, petróleo e a própria Amazônia.


