Durante décadas, o Entorno do Distrito Federal foi tratado como uma extensão funcional de Brasília: cidades que cresciam em população, mas sem o mesmo ritmo de desenvolvimento econômico e institucional. Esse cenário começa a mudar de forma mais consistente a partir da criação da Região Metropolitana do Entorno do DF (RME), em 2023, e dos dados mais recentes que revelam a dimensão real dessa transformação.
Hoje, o conjunto de municípios goianos que circundam a capital federal já concentra uma fatia relevante da economia estadual, com peso expressivo no Produto Interno Bruto de Goiás e uma população que ultrapassa a marca de um milhão de habitantes. Mais do que números, esses indicadores apontam para uma mudança de posição: o Entorno deixa de ser coadjuvante e passa a ocupar espaço estratégico no mapa econômico do estado.
Formada por 11 municípios, a RME reúne realidades distintas, mas complementares. Cidades com forte vocação para o comércio e serviços convivem com polos consolidados do agronegócio, criando uma base produtiva diversa, ainda que desigual. Esse contraste revela tanto o potencial de crescimento quanto os desafios estruturais que persistem na região.
Crescimento econômico não elimina desigualdades
Apesar da ampliação da atividade econômica, a dependência do setor público ainda é significativa em parte dos municípios. Em contrapartida, cidades como Cristalina demonstram como a diversificação produtiva — especialmente no agronegócio — pode elevar renda, gerar empregos e ampliar arrecadação local.
No mercado de trabalho, os dados indicam expansão do número de pessoas ocupadas, sinalizando recuperação econômica e maior dinamismo regional. No entanto, taxas elevadas de informalidade e desemprego mostram que o crescimento ainda não se converteu, de forma homogênea, em estabilidade e proteção social para a população.
Esse descompasso reforça um ponto central: crescer não é o mesmo que se desenvolver. Sem políticas voltadas à qualificação profissional, à atração de investimentos produtivos e à formalização do emprego, a expansão econômica tende a aprofundar desigualdades já existentes.
Investimentos públicos e nova governança regional
A criação da RME representa mais do que um arranjo administrativo. Ela inaugura uma nova lógica de governança, que permite planejamento integrado, articulação entre municípios e maior capacidade de captação de investimentos estruturantes.
Nos últimos anos, o Governo de Goiás ampliou investimentos em áreas sensíveis como saúde, educação e segurança pública, fatores determinantes para a melhoria do ambiente econômico. A presença de hospitais, leitos de UTI, escolas reformadas e reforço no policiamento impacta diretamente a atratividade da região para novos empreendimentos e para a geração de empregos.
O avanço da atividade empresarial também reforça essa mudança de cenário. O aumento na abertura de empresas em municípios do Entorno indica que a região começa a ser vista como espaço de oportunidade, e não apenas como alternativa habitacional de menor custo.
Desenvolvimento regional exige visão de longo prazo
A consolidação da Região Metropolitana do Entorno do DF coloca um desafio claro para o poder público: transformar crescimento demográfico e localização estratégica em desenvolvimento sustentável, inclusão social e qualidade de vida.
Projetos logísticos, melhorias na infraestrutura urbana e integração entre políticas estaduais e municipais são caminhos fundamentais para reduzir a dependência do setor público, fortalecer cadeias produtivas locais e ampliar o emprego formal.
O Entorno já demonstrou que tem escala, mercado consumidor e potencial produtivo. O próximo passo é garantir que essa força se traduza em oportunidades reais para quem vive ali — especialmente mulheres, jovens e trabalhadores que ainda enfrentam a informalidade como única porta de entrada no mercado de trabalho.
Mais do que uma nova região administrativa, a RME simboliza uma mudança de mentalidade: o Entorno não é mais margem. É centro de decisões que impactam o futuro econômico de Goiás.



