As mulheres são maioria no eleitorado brasileiro. Esse dado, repetido a cada ciclo eleitoral, costuma ser tratado como curiosidade estatística, não como alerta democrático. Na prática, o peso numérico do voto feminino segue distante da ocupação real dos espaços de poder. O problema não é falta de participação; é ausência de protagonismo institucionalizado.
O debate sobre 2026 precisa avançar. Não basta reconhecer que mulheres decidem eleições. É preciso discutir por que continuam fora das mesas onde as decisões são tomadas. A política brasileira ainda opera sob uma lógica antiga: mulheres mobilizam, organizam, sustentam campanhas — mas raramente comandam estratégias, definem rumos ou ocupam posições centrais de poder.
Durante décadas, a participação feminina foi tolerada como apoio, não como liderança. Essa lógica moldou partidos, campanhas e estruturas internas que seguem resistentes à paridade. O resultado é um sistema político que não reflete a composição da sociedade brasileira e tampouco responde integralmente às suas demandas.
A sub-representação feminina não é uma falha de vocação. É um projeto de exclusão sustentado por práticas partidárias, distribuição desigual de recursos, candidaturas fictícias e violência política — muitas vezes silenciosa, mas eficaz. Quando mulheres são afastadas do processo decisório, a democracia perde densidade, legitimidade e alcance.
Não se trata de discurso identitário. Trata-se de eficiência democrática. Onde mulheres participam de forma ativa, o debate público se amplia, políticas estruturais ganham centralidade e decisões passam a considerar realidades historicamente ignoradas. Democracia não se sustenta apenas com presença nas urnas; exige representação concreta nos espaços de poder.
O desafio para 2026 não é convencer mulheres a votar — elas sempre votaram. O desafio é garantir que possam disputar, vencer e governar em condições reais de igualdade. Sem isso, continuaremos reproduzindo um sistema que se legitima pelo voto feminino, mas se organiza para manter mulheres à margem das decisões.
A democracia brasileira só será plena quando a voz das mulheres não for apenas ouvida em campanha, mas respeitada, incorporada e exercida no poder. O voto abre o caminho. A voz sustenta a democracia.



