Indicação de Jorge Messias sem aviso prévio irrita o presidente do Congresso e intensifica desgaste entre Planalto e Legislativo
A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) elevou a tensão entre o Palácio do Planalto e o comando do Congresso Nacional. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), demonstrou incômodo com o fato de não ter sido avisado previamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de caber à Casa a condução da sabatina e da votação do futuro ministro da Corte.
“Não recebi nenhum telefonema do presidente Lula, nem mesmo do líder do governo, Jaques Wagner, sobre a indicação de Messias”, afirmou Alcolumbre a jornalistas antes de viajar para o Amapá.
Indicação sem aviso prévio e irritação nos bastidores
Segundo aliados, Alcolumbre se queixou tanto da falta de comunicação quanto do momento escolhido pelo governo — um feriado, quando o Congresso não estava em atividade. Para interlocutores próximos, teria sido um gesto protocolar avisar previamente o chefe do Legislativo, evitando ruídos institucionais.
A escolha de Messias ocorre após Lula descartar a indicação de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nome defendido por Alcolumbre, por setores do Centrão e por ministros influentes do STF, como Gilmar Mendes. Nos bastidores, o movimento foi interpretado como mais um capítulo do desgaste entre o Executivo e o comando do Parlamento.
Reação imediata: “pauta-bomba” na próxima semana
Cerca de duas horas após o anúncio oficial do nome de Messias, Alcolumbre reagiu. Em nota, informou que levará à votação, na próxima terça-feira (25), o projeto de lei complementar que regulamenta a aposentadoria especial dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias.
O texto, aprovado pela Câmara no início de outubro, estava parado havia semanas na mesa da Presidência do Senado — o que reforçou, entre parlamentares, a leitura de um ato de retaliação política.
“A proposta representa um marco para milhares de profissionais que dedicam suas vidas ao cuidado direto da população brasileira”, escreveu Alcolumbre. “Ao pautarmos essa matéria, reafirmamos que esses agentes são prioridade do Parlamento brasileiro.”
Impacto fiscal elevado aumenta pressão sobre o governo
O projeto deve gerar impacto bilionário nas contas públicas.
Segundo o relator na Câmara, deputado Antonio Brito (PSD-BA), o custo estimado é de R$ 5,5 bilhões até 2030, totalmente bancado pela União.
A Confederação Nacional de Municípios (CNM) calcula um valor muito maior: R$ 21,2 bilhões, considerando os regimes próprios de previdência dos municípios.
O tema coloca pressão sobre o governo, que tenta cumprir as metas fiscais. Ao mesmo tempo, envolve categorias essenciais do SUS e historicamente apoiadas pelo PT, o que tende a dificultar qualquer movimento da base governista contra a aprovação.


