A menos de dois meses da Conferência do Clima da ONU (COP30), que será realizada em novembro em Belém (PA), o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, fez um chamado direto aos países: é hora de apresentar compromissos reais e garantir que a agenda climática produza efeitos visíveis no cotidiano da população.
O discurso ocorreu nesta segunda-feira (22), durante a Climate Week, em Nova York, evento paralelo à Assembleia-Geral da ONU. Para Stiell, a conferência sediada no Brasil será um teste de fogo para medir se a cooperação internacional ainda é capaz de gerar avanços diante da crise climática.
“Toda COP tem seus desafios. Mas a COP30 deve mostrar que o multilateralismo climático continua entregando, com resultados fortes em todas as negociações”, afirmou o secretário.
NDCs e financiamento
Entre as principais cobranças, está a atualização dos planos nacionais de corte de emissões (NDCs), compromisso assumido por todos os países no Acordo de Paris. Segundo ele, cada governo precisa deixar claro como pretende contribuir para limitar o aquecimento global.
Outro ponto sensível é o financiamento climático. Stiell defendeu um roteiro robusto para mobilizar ao menos US$ 1,3 trilhão por ano, com prioridade para países pobres e vulneráveis, que enfrentam impactos severos da crise climática e têm menos condições de adaptação.
De intenções a ações
O alerta do secretário ecoa críticas à postura de blocos como a União Europeia, que nesta semana apresentou apenas uma carta de intenção sobre suas metas até 2035 — evitando anunciar números definitivos. Para especialistas, esse movimento reforça a dificuldade de transformar promessas em compromissos firmes.
Stiell foi enfático ao afirmar que a COP30 não pode se limitar a discursos ou declarações políticas:
“A conferência deve impulsionar implementação rápida e ampla, em todos os setores e economias.”
Impacto direto na vida das pessoas
Mais do que metas climáticas, a expectativa é que Belém entregue resultados que façam sentido para a população. O chefe da ONU lembrou que a ação climática precisa ser comunicada como oportunidade de melhorar a qualidade de vida: geração de empregos, ar mais limpo, energia acessível e segurança alimentar.
“Ação climática ousada significa melhores empregos, padrões de vida mais altos, ar mais limpo, vidas mais saudáveis, comida segura, energia e transporte acessíveis. É isso que está em jogo”, reforçou.
O desafio do 1,5°C
Desde o Acordo de Paris, em 2015, a meta global é limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Mas dados recentes mostram que o planeta já registrou 1,6°C de aumento em 2024, levantando dúvidas sobre se esse será um novo padrão.
Stiell lembrou, no entanto, que o trabalho multilateral já evitou um cenário ainda pior: “Sem a cooperação climática da ONU, estávamos indo para 5 ºC de aquecimento. Hoje estamos mais perto de 3 ºC. Ainda é alto demais, mas a curva está cedendo.”
Expectativas para Belém
Com todos os olhos voltados para a capital paraense, a COP30 será um marco não apenas para a diplomacia ambiental, mas também para a imagem do Brasil no debate global sobre sustentabilidade.
O grande desafio será transformar a conferência em uma vitrine de compromissos concretos e acessíveis — mostrando que o futuro do planeta não se resume a negociações diplomáticas, mas a mudanças reais na vida das pessoas.