Nos últimos dias, os Estados Unidos voltaram a elevar a tensão política e militar na América Latina ao sinalizar a possibilidade de enviar tropas à Venezuela. Caso se concretize, essa seria a primeira intervenção militar americana no continente desde a invasão do Panamá, em 1989.
Motivos da ameaça
De acordo com a Casa Branca, a presença de militares na costa venezuelana teria como objetivo o combate ao narcotráfico. Fontes do Pentágono revelaram à imprensa que cerca de 4 mil militares poderiam ser deslocados em três porta-aviões, inicialmente como demonstração de força, mas sem descartar uma ação mais direta.
A porta-voz do governo americano afirmou ainda que os EUA não reconhecem Nicolás Maduro como líder legítimo e classificaram seu governo como um “cartel de narcoterrorismo”. Como parte da pressão, Washington dobrou a recompensa por informações que levem à captura do presidente venezuelano, de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões.
Reação da Venezuela
Maduro rejeitou as acusações, afirmando que a Venezuela está pronta para se defender e que uma intervenção teria repercussões em toda a América Latina. O presidente venezuelano declarou que poderia mobilizar até 4,5 milhões de milicianos civis para reforçar a defesa nacional.
O governo também contestou a justificativa americana de combate ao tráfico de drogas. Segundo estudos independentes, apenas uma pequena parte da cocaína destinada aos EUA passa pela Venezuela — cerca de 90% do fluxo segue por rotas no Caribe e no Pacífico, de acordo com o Escritório de Washington para a América Latina (WOLA).
Posição de outros países da região
O Brasil, por meio do embaixador Celso Amorim, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, reiterou a defesa histórica da política de não intervenção em outros países. Amorim reforçou que o combate ao crime organizado deve ser feito em cooperação multilateral, e não por ações unilaterais.
O México também condenou a ameaça americana. A presidente Claudia Sheinbaum afirmou que é possível combater o narcotráfico sem violar a soberania de nações vizinhas. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro alertou que uma invasão americana poderia arrastar seu país para o conflito, comparando a situação da Venezuela à crise da Síria, marcada por instabilidade prolongada.
Riscos para a região
Especialistas em geopolítica alertam que uma eventual intervenção dos EUA poderia desestabilizar não apenas a Venezuela, mas toda a América Latina e o Caribe. O historiador Rodolfo Queiroz Laterza avalia que, embora as Forças Armadas venezuelanas tenham capacidade defensiva, não teriam condições de enfrentar os EUA em combate direto.
Ele também chama atenção para a polarização política em países da região, como o Brasil, que poderia ser explorada geopoliticamente, ampliando os riscos de instabilidade.