O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, embaixador Celso Amorim, afirmou que os Estados Unidos, sob a gestão do presidente Donald Trump, estariam adotando uma estratégia para enfraquecer governos progressistas na América Latina e subordinar a região à sua área de influência. A declaração foi dada na noite de segunda-feira (11/8), durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Segundo Amorim, essa postura norte-americana reedita a chamada Doutrina Monroe, formulada no início do século 19, que defendia a América Latina e o Caribe como “quintal” dos EUA. “Essa visão ainda está presente na cabeça dos estrategistas norte-americanos. Para não sermos quintal de ninguém, temos que diversificar nossos parceiros. Hoje, a diversificação é o novo nome da independência”, declarou.
O diplomata classificou como “estado de quase guerra” a pressão de Trump para que a China quadruplicasse as compras de soja norte-americana, medida que, segundo ele, poderia prejudicar as exportações brasileiras do grão. “Não é uma disputa comercial justa, é algo conquistado pela força”, avaliou.
Amorim destacou que o Brasil busca ampliar relações comerciais e políticas com diferentes blocos e países, como o Brics, a União Europeia, nações da África e integrantes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Ele negou que a aproximação com esses parceiros tenha viés ideológico. “O próprio Brics tem países com posições políticas distintas, como Índia e Emirados Árabes Unidos, que mantêm relações próximas com os EUA”, exemplificou.
O assessor de Lula criticou a imprevisibilidade das relações com Washington sob o atual governo norte-americano, citando mudanças repentinas entre medidas econômicas, tarifas comerciais e ações políticas. Para ele, isso reforça a necessidade de diversificar mercados e parcerias.
Sobre a integração latino-americana, Amorim reconheceu retrocessos nos últimos anos e defendeu a retomada de mecanismos como o Conselho Sul-Americano de Saúde e o Conselho Sul-Americano de Defesa. Ele lembrou que o Consenso de Brasília, firmado em 2023 por 11 países, foi um passo importante para reaproximar as nações da região.
Ao final, rejeitou acusações de que o governo Lula seria antiamericano. “Defender a integridade da dignidade nacional não é hostilidade, é soberania. Não podemos agir com mentalidade de dependência”, concluiu.