Iniciativa do Ministério da Justiça convoca familiares de pessoas desaparecidas para doar material genético e ampliar identificações em todo o país
O Brasil já registra mais de 40 mil desaparecimentos apenas em 2025, segundo dados da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas. A média alarmante de quase 300 pessoas desaparecidas por dia reforça a urgência de ações que possam ajudar famílias a encontrar entes queridos — ou ao menos encerrar longos ciclos de incerteza e angústia.
Para enfrentar essa realidade, o Ministério da Justiça lançou, nesta terça-feira (5/8), a terceira edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas. A ação segue até o dia 15 de agosto, com pontos de coleta abertos em todo o país.
Como funciona a campanha
A proposta é ampliar os bancos de perfis genéticos estaduais e nacional, com a coleta voluntária de material genético de familiares de pessoas desaparecidas. Os dados são comparados com amostras de restos mortais não identificados ou de pessoas vivas sem documentos que estejam sob cuidados institucionais.
Durante o lançamento da campanha, a diretora do Sistema Único de Segurança Pública, Isabel Figueiredo, explicou como participar:
“É necessário ter o boletim de ocorrência do desaparecimento e um documento pessoal. O DNA será utilizado exclusivamente para essa finalidade e será armazenado em uma área específica, dentro do banco de dados, voltada apenas para casos de desaparecimento.”
A privacidade e a finalidade restrita do uso do DNA estão entre as garantias oferecidas aos doadores.
Histórias que refletem a importância do programa
Um dos relatos mais marcantes divulgados durante o lançamento foi o da aposentada Glaucia Lira, que passou 13 anos à procura do filho desaparecido. A partir da doação de seu material genético, foi possível identificar os restos mortais do rapaz.
“Não foi o retorno que eu queria. Mas hoje eu sei o que aconteceu. Foi, de certa forma, um alívio, porque não fico mais pensando onde ele está, como está. Esse trabalho precisa ser valorizado”, disse emocionada.
Casos como o de Glaucia mostram que, mesmo diante da dor, a ciência pode oferecer um encerramento digno às famílias.
Resultados da edição anterior
Em 2024, o programa realizou mais de 1.600 coletas de material genético de familiares e ajudou a identificar 35 pessoas. Ainda que o número pareça pequeno diante do volume de desaparecimentos — mais de 81 mil registros no ano passado — cada caso solucionado representa o fim de um ciclo de sofrimento para uma família.
Das mais de 81 mil notificações de desaparecimento em 2024, cerca de 27 mil pessoas foram encontradas, embora nem todas com vida, e nem todas desaparecidas naquele mesmo ano.
Onde doar
Os laboratórios credenciados nos estados estão abertos durante a campanha, e a coleta também pode ser feita em outros períodos. Os locais de atendimento e instruções completas estão disponíveis no portal oficial do Ministério da Justiça.