Cães e gatos fazem parte da vida de quem vive nas ruas do DF

A relação entre seres humanos e animais é marcada por afeto, cuidado e companheirismo — e isso não é diferente entre pessoas em situação de rua. Segundo dados do 2º Censo Distrital da População em Situação de Rua, divulgado pelo IPEDF, cerca de 15% da população que vive nas ruas do Distrito Federal convive com ao menos um animal de estimação.

O levantamento ouviu 1.751 pessoas, das 3.521 identificadas nas ruas, serviços de acolhimento institucional e comunidades terapêuticas do DF. Entre elas, 14,9% afirmaram cuidar de um animal, totalizando 572 companheiros fiéis — a grande maioria, cachorros (90,7%), seguidos por gatos (8,9%) e até cavalos (0,3%).

Apesar dos desafios diários da rua, muitos desses tutores conseguem garantir o mínimo de cuidado aos seus pets. Segundo o censo, 46,1% dos cães e 27,5% dos gatos estavam vacinados contra a raiva. Os dados mostram o esforço desses moradores para manter seus animais protegidos, mesmo diante de tantas adversidades.

Entretanto, a presença dos animais também pode representar uma barreira. Alguns entrevistados relataram dificuldades para acessar estabelecimentos comerciais (16,9%), restaurantes comunitários (13%) e unidades de saúde (8,8%) quando estão acompanhados de seus bichos de estimação.

Ainda assim, a maioria dos tutores (49,8%) declarou que a presença do animal não impediu o acesso a serviços ou locais importantes. Isso demonstra não apenas o vínculo emocional existente, mas também a importância de políticas públicas que considerem essa realidade ao formular estratégias de acolhimento e assistência.

Além disso, o censo apontou um crescimento de 19,8% na população em situação de rua em comparação com 2022. A maioria dessas pessoas tem entre 31 e 49 anos (51,3%), e a maior concentração geográfica está no Plano Piloto (25,5%), seguido de Ceilândia (20,4%) e Taguatinga (8,7%).

O dado que chama atenção é a redução de mais de 50% na quantidade de crianças vivendo nas ruas em relação ao censo anterior — um indicativo de que, apesar dos desafios, há caminhos sendo trilhados para a proteção da infância.

Mas fica o alerta: viver nas ruas com um pet é, muitas vezes, a única forma que essas pessoas têm de manter um laço afetivo e de segurança emocional. Respeitar essa relação é essencial para garantir acolhimento digno e políticas verdadeiramente inclusivas.

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