Carlos Velloso: Crise com Trump é política, não jurídica, e exige pragmatismo nas negociações

O aumento das tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros e as sanções pessoais contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) escancararam uma crise política entre os dois países, que, na visão do ex-presidente do STF Carlos Velloso, deve ser enfrentada com pragmatismo e inteligência diplomática — não com embates ideológicos ou ações precipitadas.

Em entrevista ao Correio, Velloso afirmou que o conflito comercial promovido pelo presidente norte-americano Donald Trump — que elevou as tarifas de importação em 50% e passou a exigir anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro como condição para negociar — não possui, essencialmente, fundamentos jurídicos. “A questão é menos jurídica, muito mais política”, pontuou o ex-ministro. Para ele, tanto no Brasil quanto nos EUA, há margem legal para alterações nas alíquotas de importação por decisão do Executivo, desde que dentro dos parâmetros legais.

Velloso destacou que o Brasil tem um ativo estratégico nesse embate: a diplomacia. “Temos uma das melhores diplomacias do mundo. A grande questão é saber se ela está à frente das conversações”, provocou.

Sobre as acusações feitas por influenciadores e políticos próximos a Bolsonaro de que o ex-presidente é vítima de “lawfare” por parte do Judiciário brasileiro, Velloso foi direto: “Não”. Ele também evitou opinar sobre medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica por Bolsonaro, afirmando que uma análise isenta exigiria acesso aos autos do processo.

Em relação às sanções impostas aos ministros do STF pelos EUA — incluindo suspensão de vistos —, o ex-presidente da Corte classificou a atitude como “extravagante” e “inacreditável”, reforçando que tal conduta não encontra respaldo no Direito internacional. “Acho que a diplomacia americana está ao largo disso. É uma pena”, disse.

Apesar da escalada do conflito, Velloso acredita que as relações diplomáticas com os Estados Unidos não devem ser rompidas, considerando os mais de 200 anos de laços históricos entre os dois países. No entanto, alerta para prejuízos significativos nas relações comerciais, especialmente para a indústria e o agronegócio brasileiros. “Os riscos serão enormes. Mas tudo depende das negociações. E torcemos pelo sucesso delas, pelo sucesso do Brasil.”

A mensagem do jurista é clara: diante de um cenário geopolítico instável e de líderes imprevisíveis, o Brasil precisa agir com diplomacia, realismo e foco na proteção de seus interesses comerciais e institucionais.

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