Ana Maria Gonçalves faz história na ABL e reforça o papel da mulher na literatura brasileira

Nesta quarta-feira (10), a literatura brasileira viveu um momento marcante: a escritora mineira Ana Maria Gonçalves foi eleita para a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a integrar o seleto grupo de imortais. Com 30 dos 31 votos, ela ocupará o lugar do respeitado gramático e filólogo Evanildo Bechara, falecido em maio.

Autora do aclamado romance Um defeito de cor, publicado em 2006, Ana Maria conquistou reconhecimento nacional e internacional ao dar voz à história de Kehinde, uma mulher africana escravizada no Brasil. A narrativa, inspirada na figura histórica de Luisa Mahin, atravessa temas profundos da formação social brasileira com sensibilidade, rigor histórico e potência literária. A obra venceu o Prêmio Casa de Las Américas de 2007, em Cuba, e foi eleita pela Folha de S.Paulo como o livro mais importante do século XXI no Brasil.

Em 2024, o enredo do livro foi escolhido pela escola de samba Portela, ganhando as ruas do Rio de Janeiro e reafirmando seu impacto cultural ao liderar, na época, o ranking de mais vendidos da Amazon.

Aos 55 anos, Ana Maria é hoje a mais jovem entre os imortais da ABL. Sua eleição não apenas reconhece o talento e a dedicação de uma escritora que deixou a carreira publicitária para se entregar à literatura, mas também amplia os horizontes da representatividade dentro da academia. Ela se torna a 13ª mulher eleita desde a fundação da ABL, em 1897, e uma das cinco mulheres atualmente em exercício na instituição.

Mais do que uma conquista pessoal, sua presença na ABL simboliza um avanço importante: o fortalecimento da presença feminina nos espaços de memória, pensamento e criação literária. A entrada de Ana Maria Gonçalves na academia representa uma celebração da diversidade de vozes que constroem a literatura nacional — e um reconhecimento do poder da narrativa como ferramenta de transformação e identidade.

Últimas