Filme sobre influencer da periferia é consagrado em festival goiano

No Ibura, bairro da periferia do Recife, Cris Martins e o marido, Albert Ventura, desempregados e em meio a pandemia de covid-19, vivem uma jornada heroica para dar conta da criação de três filhos, da gravidez de mais uma criança, a busca por uma laqueadura no SUS e a luta pela reconstrução, tijolo a tijolo, da casa da família.

Em sua luta para reconstruir a vida, garantir seus direitos reprodutivos e sustentar a família, Cris também se destaca atuando como micro-influenciadora digital.

Notícias relacionadas:

“É preciso ir além do cinema indígena etnográfico”, dizem cineastas.‘Arte pode servir de alerta para questão ambiental’, diz Zeca Baleiro.Essa história real emocionante, que tem sensibilizado plateias por onde passa, está documentada em Tijolo por Tijolo, filme dirigido por Victoria Alvares e Quentin Delaroche, consagrado neste domingo (15) com as principais premiações do 26º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na Cidade de Goiás.

O documentário, que exibe grande qualidade cinematográfica ao mergulhar com profundidade na vida familiar de Cris, ao mesmo tempo arranca risadas e comove o público durante a sessão.

Essa potência levou Tijolo por Tijolo a vencer o grande troféu Cora Coralina de melhor filme do festival goiano, eleito pelo júri oficial, com prêmio de R$ 35 mil.

 

Brasília (DF), 15/06/2025 – Cena do filme Tijilo por Tijolo, vencedor do Fica 2025. Frame Revoada Filmes/Divulgação

A obra também faturou o prêmio de melhor direção, o troféu Imprensa, concedido por um júri de jornalistas especializados, e o troféu do júri jovem, obtendo, assim, todas as premiações possíveis.

O reconhecimento confirma o sucesso que o filme vem experimentando por onde tem circulado. Recentemente, foi destaque em premiações no festival curitibano Olhar de Cinema.

“Tijolo não é sobre um assunto só. A gente fala sobre justiça climática, sobre racismo ambiental, a gente fala sobre uma maternidade real, sobre direitos reprodutivos, a gente fala sobre afeto, sobre periferia, sobre paternidade preta, sobre redes sociais, sobre as big techs, essa pulverização dos trabalhos”, afirmou Victoria Alvares à Agência Brasil, logo após a premiação no festival goiano.

“São temáticas muito globais, o que faz com que um público muito diverso consiga se sentir tocado pelo filme de formas distintas”, destacou a diretora. “Então, é muito comum as pessoas saírem do filme dizendo assim: ‘Meu Deus, eu estou me sentindo prima desse pessoal'”, observou.

Nos cinemas

Victoria e Quentin assinam não apenas a direção, mas a fotografia, o som, a montagem e a produção do longa, uma equipe mínima. Eles passaram dois anos registrando a intimidade de Cris e de sua família, após construírem fortes relações com esses personagens reais. A expectativa, agora, está no lançamento do filme em salas comercias, viabilizada por meio de edital público. A data de estreia ainda não foi anunciada.

“Com a mudança de governo e o restabelecimento de políticas públicas de cultura, a gente conseguiu finalizar o filme e ganhamos também um edital para a distribuição do filme. Então, filme vai ser lançado em salas comerciais, o que é uma vitória muito grande, porque a gente sabe o quanto é difícil o cinema nacional ocupar esse espaço nas salas comerciais e ainda mais cinema documental”, celebrou Victoria.

Mostras competitivas

Considerado o maior evento audiovisual com temática ambiental da América Latina, o Fica distribuiu, ao todo, cerca de R$ 220 mil em prêmios para quatro mostras competitivas.

Entre os filmes goianos, o documentário Entre as Cinzas, que mostra brigadistas atuando contra incêndios florestais criminosos, levou o prêmio de melhor filme goiano eleito pelo júri.

O prêmio de melhor filme de curta e média metragens ficou com a animação Marés da Noite.

O júri oficial ainda concedeu menções honrosas aos filmes Nós vivemos aqui e Mãos à terra.

 

>> Confira a seguir todos os premiados da 26ª edição do Fica:

 

Mostra Internacional Washington Novaes

Prêmio Cora Coralina – melhor longa-metragem: Tijolo por Tijolo

Prêmio Carmo Bernardes – melhor direção: Tijolo por Tijolo

Prêmio Acari Passos – melhor curta ou média-metragem: Marés da Noite

Prêmio João Bennio – melhor filme goiano: Entre as Cinzas

Menções Honrosas do Júri Oficial: Nós Vivemos Aqui e Mãos à Terra

Prêmio José Petrillo – Júri da Imprensa: Tijolo por Tijolo

Prêmio Jesco Von Puttkamer – Júri Jovem: Tijolo por Tijolo

Prêmio Luiz Gonzaga Soares – Júri Popular: Encontro das Águas

Prêmio Fiocruz: Mãos à Terra

 

Mostra do Cinema Goiano

Melhor filme de longa metragem: Mambembe 

Melhor filme de curta metragem: Entressonho

Melhor direção de longa metragem: Fabio Meira, por Mambembe 

Melhor direção de curta metragem: Yorrana Maia, por Fidèle 

Melhor direção de fotografia: Larry Machado, por A Mulher Esqueleto

Melhor roteiro: Yorrana Maia, por Fidèle 

Melhor montagem: Afonso Uchoa, Fabio Meira e Juliano Castro, por Mambembe 

Melhor personagem: Francisca Americo dos Reis, por Planta de Raiz Profunda 

Melhor som: Theo Farah e Bruno Fiorezi, por Goiânia Rock City

Melhor trilha musical: Goiânia Rock City

Melhor direção de arte: Paulo César Alves, por A Mulher Esqueleto

Menção Honrosa: Jamming – O ano em que Junior Marvin morou em Goiânia

 

Mostra do Cinema Indígena e Povos Tradicionais

Melhor filme de Longa-metragem: Originárias

Melhor filme de curta ou média-metragem: Sukande Kasáká / Terra Doente

Menção Honrosa: ADOBE: Habilidades tradicionais da construção Kalunga

 

Mostra Becos da Minha Terra (filmes produzidos na Cidade de Goiás)

Melhor filme: Atitudinal

Melhor direção: Carlos Cipriano, por Para Carlos

Melhor roteiro: Jadson Borges, por Lockdown

Melhor montagem: Helena Caetano, por Sol Noturno

Melhor som: Brisa Castro, por Tom de Ameaça

 

*A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite da organização do 26º Fica

Pedro Rafael Vilela* – Enviado Especial

Últimas