Em um país onde o prato vazio já virou rotina, onde o arroz virou luxo e a carne, lembrança de domingo, um deputado decide fazer greve de fome. Um ato político. Um símbolo. Uma cena que mais parece teatro.
Glauber, o nome dele. Deputado federal. Disse que não come em protesto. Jejua em nome da democracia, das instituições, da justiça. E muitos aplaudem. Outros choram. Mas não é de emoção, não — é de fome mesmo. Porque aqui fora, longe das câmeras e do ar-condicionado do Congresso, tem gente que jejua sem escolha, sem palanque, sem imprensa.
Enquanto ele recusa o prato, milhões só sonham com ele.
Os aliados surgem: artistas, colegas parlamentares, hashtags de solidariedade. Tudo embalado numa estética bonita de resistência. Mas me pergunto: quantos desses já pisaram numa fila de osso? Quantos já enfrentaram a humilhação de ter que escolher entre o gás ou o leite das crianças?
É hipocrisia ou só miopia social?
Temos um país em crise — não só econômica, mas moral. E nesse cenário, o Parlamento, que deveria ser solução, vira palco. Deputados brincam de mártires enquanto o povo morre de verdade. Os que realmente vivem do suor (quando há trabalho) e da espera (quando há fé), esses seguem invisíveis.
Greve de fome por protesto? Tá na moda. Mas fome de verdade nunca saiu de moda nesse país.
Não é perseguição quando se aponta o ridículo. É só a voz de quem está cansado de ver o povo ser usado como figurante em espetáculo de vaidade política. Quem de fato passa fome não quer símbolo: quer comida, respeito, e representantes que façam jus ao nome.
Enquanto isso, seguimos. Uns de estômago vazio, outros de vergonha.
GZH- Charge Lotti