Na manhã desta sexta-feira (28), em São Paulo, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez uma declaração contundente: o Brasil vive uma guerra contra as mulheres. Durante sua participação no Seminário Democracia, Justiça, Política e o Futuro do Ministério Público, Perspectiva Feminina, promovido pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (ESMPSP), a ministra destacou a gravidade dos números da violência de gênero no país.
Segundo dados apresentados no evento, apenas em 2024 foram registradas 20 milhões de notificações de violência contra a mulher, incluindo ameaças de feminicídio. O dado representa cerca de 10% da população brasileira e escancara a realidade brutal enfrentada diariamente por milhões de mulheres.
“Há guerras que não violentaram 20 milhões de pessoas no espaço de um ano”, pontuou a ministra, lamentando a falta de medidas concretas para reverter esse cenário. “O Brasil não apenas notificou e divulgou esses números. Todo mundo acha um absurdo, mas eu não vi, desde a divulgação no fim de janeiro, nenhuma ação específica direcionada a mudar esse quadro”, completou.
A desigualdade de gênero nos espaços de poder também foi alvo de sua reflexão. Apesar de as mulheres serem a maioria da população e do eleitorado, continuam sub-representadas na política e nos cargos de liderança. “Se todos fossem realmente a favor da igualdade, como afirmam, esse número não seria o que observamos”, disse. “Por que somos a maioria nos cursos de Direito, nos concursos para a magistratura e para o Ministério Público, mas não ocupamos os espaços de decisão? Onde estão as procuradoras, as desembargadoras, as ministras?”
O seminário debateu os desafios enfrentados pelas mulheres no Ministério Público e no sistema de justiça, além da necessidade de desenvolver políticas públicas que garantam maior participação feminina nos espaços de poder.
A fala da ministra reforça o que as estatísticas já mostram: não se trata de um problema individual, mas de um sistema que perpetua a desigualdade e a violência. A urgência de ações concretas é evidente. Enquanto não houver compromisso político real, os números seguirão alarmantes, e a guerra contra as mulheres continuará sendo travada, silenciosamente, em cada canto do país.