Lideranças negras, pesquisadores e representantes de governos estão reunidos em Salvador para a Conferência da Diáspora Africana nas Américas. Nesta quinta-feira (29), na abertura do evento na Universidade Federal da Bahia (UFBA), eles discutiram formas de aumentar o intercâmbio entre os países e avançar nas propostas sobre pan-africanismo, memória, restituição, reparação e reconstrução.
Cerca de 50 países enviaram delegações. Entre eles, Angola, África do Sul, Argentina, Bahamas, Camarões, Colômbia, Costa do Marfim, Cuba, Estados Unidos, Gana, Haiti, Honduras, São Tomé e Príncipe, Sudão do Sul, Namíbia e Togo.
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Começa em Salvador a Conferência da Diáspora Africana nas Américas.O reitor da UFBA, Paulo Miguez, ressaltou o compromisso da universidade com a educação e citou acordos de cooperação assinados com instituições africanas. As parcerias abrangem atividades no ensino de graduação e pós-graduação e de trabalhos de pesquisa. De acordo com ele, estão em debate novos acordos de cooperação com o Ministério de Relações Exteriores que podem ampliar a integração na Diáspora Africana nas Américas.
A secretária estadual da Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Ângela Guimarães, destacou que o pan-africanismo é muito mais que uma corrente política ou filosófica. “É a expressão concreta da nossa unidade enquanto povo, independente das fronteiras geográficas que nos separam. É a compreensão de que partilhamos uma história comum de resistência, de lutas e de conquistas e que juntas somos mais fortes na busca por um mundo mais justo e equitativo”, lembrou Ângela. “Somos uma alternativa viável de desenvolvimento para o sul global, carregamos a potência para esse futuro comum.”
Para a secretária, o Brasil, por ser o país com a maior população negra fora da África, tem um papel estratégico nessa luta global. “A diplomacia, cooperação técnica, educacional, científica e tecnológica e os intercâmbios culturais, são ferramentas poderosas que devemos usar para construir pontes e desenvolver parcerias que beneficiem nossas comunidades em ambos os lados do Atlântico”, afirmou Ângela.
O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também falou em ressignificação de conceitos sobre a diáspora.
“Historicamente, a noção de Diáspora Africana está diretamente ligada à memória do colonialismo, à memória da escravidão, do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas, mas tudo isso pode e precisa ser ressignificado. Esse evento é um evento de ressignificação e reconfiguração da nossa humanidade, para que nós, filhos da Diáspora, possamos fazer parte dessa humanidade que nos foi negada.”
O ministro defendeu a inclusão de todos os países da diáspora no debate sobre governança global. “Uma governança global que não nos inclua, é uma governança que se abre para o fascismo. Só haverá uma governança global realmente democrática se nós estivermos inseridos nesse contexto.”
Também presente na abertura da Conferência da Diáspora Africana nas Américas, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, destacou a importância de líderes de movimentos sociais.
“Quando tiram a Mari [Marielle Franco] e dão um recado para a gente com aqueles tiros na cabeça, também nos deram um recado quando infelizmente assassinaram Mãe Bernadete. Quando tiram os nossos líderes e as nossas líderes e dizem que somos descartáveis, a gente se reinventa.”
Em discurso, o chanceler do Togo, Robert Dussey, fez uma reflexão sobre a importância da união na luta coletiva contra o racismo, por mais justiça e condições dignas de sobrevivência. “O que queremos para o continente africano é que nós e vocês que nascemos da mesma raiz possamos ser respeitados. Aceitar e viver nossa humanidade como todos os povos”, enfatizou.
Para o professor de Artes e Comunicação da Universidade Federal do Sul da Bahia, Richard Santos, a conferência é a oportunidade de buscar uma integração do diálogo político acerca de temas prioritários para a população negra. “Quando discutimos pan-africanismo, um dos tópicos que a gente discute é a possibilidade de discutir o futuro, ampliar, avançar para além dessa relação cultural, dessa relação que não costuma passar pela política dos movimentos sociais e culturais”, disse.
*Estagiária sob supervisão de Marcelo Brandão
Ana Carolina Alli*