Independentemente do presidente eleito, militares não abrirão mão do espaço conquistado, dizem pesquisadores

Para estudiosos da área de Defesa, golpe militar clássico seria desnecessário para os militares, que detêm poder e espaço consideráveis – que devem continuar, não importa o resultado da eleição. O recente questionamento feito pelos militares sobre as urnas eletrônicas – o Ministério da Defesa fez 88 perguntas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde o ano passado – foi um ponto crítico do envolvimento das Forças Armadas em assuntos civis durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Mas, para a pesquisadora Adriana Marques, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a interferência militar em “assuntos que não são de sua competência” e o espaço ocupado por eles em outras instituições são construções de longo prazo que a categoria vai lutar para manter independentemente de quem seja eleito em 2022

“Eles já estão atuando para não perder o espaço que conquistaram. Inclusive essas escaramuças contra o TSE também são uma maneira de dizer: ‘Olha, estamos aqui, e vocês terão que negociar’ (sobre o espaço e o poder que têm). Qualquer que seja o novo governo, eles querem estar em uma boa posição para negociar”, afirma Marques, que é coordenadora do Laboratório de Estudos de Segurança e Defesa (LESD).

O número de militares em cargos civis teve um aumento de 70% governo Bolsonaro, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em maio deste ano. No total, os militares na cúpula do Executivo foram de 680 em 2018 para 1085 em 2021. É um processo de militarização que já vinha de antes, mas se intensificou no atual governo. Segundo o Ipea, a tendência de expansão foi observada em todo o período desde 2013, “mas o maior aumento proporcional foi entre 2018 e 2019”. O número cresceu ainda mais com novas nomeações neste ano, mas os dados de 2022 não foram contemplados na pesquisa. A presença militar e sua influência é maior nas áreas consideradas estratégicas pelo governo, segundo o Ipea, como Economia e Educação. Isso ficou evidente também com a colocação do general Eduardo Pazuello na chefia do Ministério da Saúde no auge da pandemia de covid-19. Na Educação, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares é uma das principais vitrines do governo. Feito em parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Defesa, visa aplicar no país todo elementos da gestão dos colégios militares.

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