Gestado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o Museu Nacional da República (MUN) abre espaço para a retrospectiva do trabalho do designer, chargista e professor gaúcho Claudio Maya (1943-2020), que morreu de Covid-19 no final do ano passado. “O Lugar das Coisas É Onde Você as Pôs” abre a visitação ao público nesta sexta-feira (27.8) e segue até 7 de novembro, reunindo 70 trabalhos divididos entre cartazes, cartuns, charges, produtos editoriais e industriais.
A diretora do museu, Sara Seilert, lembra que, em 2017, quando Brasília completou 30 anos como Patrimônio Cultural da Humanidade, a capital recebeu o título de Cidade Criativa do Design pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“Oferecer ao público exposições de design no Museu Nacional da República, como a de Claudio Maya, é nossa forma de reconhecer e valorizar as características estéticas da cidade e a vocação do Museu, divulgando a produção de design feita em Brasília, pioneira, e seu legado”, destaca a diretora.
A exposição, cujo título evoca a psique humana, tem curadoria de André Maya, filho do artista, também designer e professor da Universidade de Brasília (UnB), e de seu colega de instituição, Rogério Câmara. André explica que a ideia de expor o trabalho do pai não partiu dele, mas de Rogério. “Com o falecimento do meu pai logo no início desse projeto, minha relação com a exposição mudou. Organizar o trabalho dele me reorganiza, me ajuda a encontrar o lugar das coisas”.
VIVÊNCIAS DE INFÂNCIA
No trabalho de juntar as criações espalhadas por Claudio Maya em muitas artes, André conta que rememorou as vivências de infância, com as quais aprendeu que o processo criativo começa muito antes de se tomar assento na prancheta ou na tela do computador, a partir da familiarização com materiais – tintas, paletas de cor, lápis, canetas, borrachas e colas.
“Ele nos ajudava a fazer elaboradas capas de trabalho com letraset (caracteres decalcáveis), na construção de pipas e até de estilingues”, rememora.
Sobre a facilidade de Claudio em percorrer campos distintos, André diz acreditar que essa é uma característica importante das primeiras gerações de designers formados no país. Afirma que o pai não fazia distinção entre projetos bidimensionais e tridimensionais.
“É claro que os projetos de produto ficaram mais restritos ao período em que morou em São Paulo, no início da década de 1970. Cartum ele fazia porque era gaiato. Ele sempre foi um sujeito engraçado, com um senso de humor muito aguçado. E tinha traço”, conta.
André conta que o pai falava muito do sonho de Darcy Ribeiro e dizia “que estávamos cada vez mais distantes dele”, uma fala que vaticinava tempos difíceis adiante. “Eu acho que o Claudio Maya viveu esse sonho quando cursou arquitetura na Universidade de Brasília, em 1963 e 1964. O sonho durou pouco, mas foi intenso para quem viveu. Nem mesmo a truculência da ditadura militar foi capaz de apagar a formação humanista e dialética, que marcou não só ele, mas toda uma geração”.
ARTE E DESIGN
A exposição provoca o espectador a pensar os limites entre design e arte. Sobre a preposição, André responde: “Vejo que o trânsito entre design e arte é muito mais produtivo e comum que a separação entre eles. Muitos designers atuam numa zona limítrofe entre projetista, autor, editor e ilustrador. Se há uma distinção inequívoca, eu desconheço. É claro que o mercado sempre vai demandar habilidades específicas que o designer ou artista terá que adquirir, independentemente de sua formação. A Bauhaus era uma escola de arquitetura, de artes ou de design? Eu não saberia responder”.
Rogério Câmara destaca que Claudio Maya esteve entre as primeiras gerações formadas em design no Brasil e participou da construção desse campo no país.
“Hoje, é raro encontrar um designer que projete com tamanha naturalidade bens de consumo (fogão, ventilador, aparelho de som, etc.) e produtos gráficos. Sua produção resulta de um senso estético apurado, da consciência das possibilidades fornecidas pelos meios de produção e da observância do campo social. Cabe destacar o humor crítico de seus textos, estes revelam um grande frasista, talento que pode se observado também em suas charges”, observa.
Entre a arte e o design, a nova exposição do MUN promete dialogar com a vocação estética da capital e propiciar ao público brasiliense enquadramentos do passado que continuam na vanguarda dos tempos.
“O Lugar das Coisas É Onde Você as Pôs”
Exposição retrospectiva do trabalho do designer Claudio Maya
27 de agosto a 7 de novembro
Museu Nacional da República, Galeria Térreo
Horário de visitação: sextas, sábados e domingos das 10h às 16h – horário reduzido em atendimento ao protocolo de segurança para enfrentamento da pandemia conforme Portaria SECEC-DF nº 179 de 16 de setembro de 2020 (o horário de visitação poderá sofrer alteração)
Telefone: (61) 3325-5220
Entrada gratuita
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)